O poeta franco-caribenho Aime Cesaire, um dos fundadores de um importante movimento literário que celebra a consciência negra, morreu na Martinica, sua terra natal, informou o Ministério da Cultura francês na quinta-feira. Cesaire, 94 anos, era prefeito de Fort-de-France, principal cidade da ilha. Ele deu entrada no hospital na semana passada, com problemas no coração e outros. Seus escritos fornecem uma visão aprofundada sobre a maneira como a França impôs sua cultura aos cidadãos de origens diferentes no começo do século 20. O tema ainda ressoa na política francesa atual, já que o país continua tendo problemas para integrar muitos de seus habitantes de origem africana. Em 2005, Cesaire se recusou a encontrar o atual presidente francês, Nicolas Sarkozy, então ministro do Interior, porque temia que o partido conservador do líder francês apoiasse uma lei que atribuía legado positivo ao colonialismo francês. A lei acabou sendo revogada. Cesaire e o intelectual africano Leopold Senghor -- que, mais tarde, se transformou em presidente do Senegal -- fundaram em 1934 o jornal "O Estudante Negro", que encorajava as pessoas a desenvolver a identidade negra. O escritor caribenho ficou famoso com o livro de poemas "Cahier d'un Retour au Pays Natal" (caderno de retorno à terra natal, em tradução livre), escrito no fim dos anos 1930, no qual dizia: "minha negritude não é uma torre ou uma catedral, ela mergulha na carne vermelha do solo". Seus poemas expressam a degradação do povo negro no Caribe e descrevem a redescoberta de uma identidade africana.
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