Apesar da familiaridade com os Mutantes, o guitarrista do Grandaddy, Jim Fairchild, reconhece que não sabe muita coisa a respeito da cena musical brasileira. Como a maioria dos músicos estrangeiros que aportam por aqui, pretende reverter a situação em meio às apresentações que fará no Rio e em São Paulo por conta do Free Jazz Festival. "Estamos muito ansiosos com o convite, acho que serão noites realmente especiais. Vou aproveitar para comprar todos os discos que eu puder", diz ele, por telefone, de sua casa na interiorana Modesto, na Califórnia. "Outra coisa que sei sobre o Brasil é que há um grande número de skatistas bem colocados no ranking mundial. Li uma reportagem legal na Skateboarding ou na Thrasher (revistas especializadas norte-americanas) sobre as ruas de São Paulo e conheci um cara em Santa Mônica que era um total alucinado nas pistas." O guitarrista avisa aos esportistas radicais brasileiros que levará seu skate na bagagem, isso, sem antes fazer uma ressalva. "Ando de skate há anos, mas minha performance está diretamente ligada à quantidade de cervejas que eu consumo", diverte-se. A idéia de formar o Grandaddy partiu do vocalista, guitarrista e tecladista Jason Lytle. Em 1992, ele se juntou ao baterista Aaron Burtch e ao contrabaixista Kevin Garcia no intuito de dar corpo às suas idéias musicais. Fairchild e o pianista Tim Dryden entraram em 1995. O som do grupo é genericamente chamado lo-fi rock, por causa do apreço de Lytle pelos estúdios caseiros e produção enxuta. Mas, independentemente de rótulos, suas composições são meditativas, delicadas, alternam momentos de rapidez e peso, incorporam ruídos de toda a sorte e flertam com a eletrônica, no caso de baixa tecnologia. "A intenção é trazer a estrutura orquestral para o rock-and-roll", diz Fairchild. Ele diz que não se incomoda com a onipresença de Lytle na composição e produção dos álbuns. Pelo contrário, admira a mão de ferro com a qual o amigo trata dos negócios da banda. "Jason Lytle é o realmente o compositor principal, ele produz as faixas e apresenta para o restante do grupo. Ele é muito talentoso e obcecado", comenta. "Temos uma maneira de trabalhar bastante cômoda e funcional." Sobre o parentesco estilístico com outras bandas, o guitarrista acredita que um dos únicos artistas que se aproximam das intenções de Lytle, é o cantor e compositor folk Elliott Smith. "Já tocamos juntos algumas vezes e mesmo que a sua música não seja similar à nossa, ele faz parte do mesmo universo bucólico que o nosso." E por falar em encontros nos palcos, Fairchild aproveita para lembrar que o Free Jazz Festival está longe de propiciar a primeira dobradinha entre o Grandaddy e os islandeses do Sigur Rós. "Nós nos apresentamos na mesma noite durante um festival no Japão, no ano passado. Molecada incrível." Já os escoceses do Belle & Sebastian, Fairchild flagrou há algumas semanas no já citado espetáculo de São Francisco. Mas não mostra grande empolgação com um dos fenômenos indie. "Legal, legal", evade, polido o skatista músico.