Uma das maiores alegrias em ser fã do Elton John é o fato de ele estar em plena atividade, com vitalidade, se apresentando impecavelmente. Além de grande criador, é um grande performer e soube – no longo percurso – se adaptar ao star-system, não se deixando tragar pelo aspecto traiçoeiro do show business e vivendo com alegria uma melhor idade com toda a pompa que suas qualidades fazem merecer.

Quando despontou para o mundo, na virada da década de 70, com sua suave melancolia e “persona” peculiar, instigante, com seus óculos, sua elegância londrina, com seu piano clássico e visceral, eu já engatinhava com meus sonhos de me tornar artista. É óbvio que ele se tornou uma das maiores referências para mim, junto com Jobim, Luizinho Eça, Taiguara, Ivan Lins, Johnny Alf, João Donato e Antonio Adolfo.
Tive que “cortar um dobrado”, como se diz, lutar bravamente, no começo da carreira (uns poucos anos adiante, quando a Globo me lançou com 22 anos de idade), para manter a minha brasilidade e evitar a imitação gratuita, tanto em música como em visual e comportamento: Elton se tornava o maior do mundo, encarnando um personagem a cada ano mais surpreendente... Mas o âmago de seu sucesso sempre foi muito menos o espalhafato a que o star-system induzia, e muito mais a qualidade e a beleza de suas composições, daí a sua excelente longevidade. Daí o seu exemplo. Um compositor maravilhosamente equilibrado entre a erudição e a pegada mais pop, entre a sofisticação e a simplicidade piramidal: o equilíbrio característico do gênio...
Elton tem seu piano recheado de acentos e síncopas oriundos do blues, um dedilhado vivaz com muito bom gosto nas inversões harmônicas, nos ornamentos, generoso mas sem jamais pecar pelo excesso ou exibicionismo virtuosístico... e particularmente (para mim que sou aficionado) um som inigualável de Grand Piano, tanto nas gravações como nas apresentações ao vivo, fruto de um know-how que é “Segredo de Estado”. É simplesmente o melhor do mundo.