Já fazem mais de dez ano que a cantora Iara Rennó lançou o seu disco Macunaíma Ópera Tupi, em referência ao trabalho fundamental de Mário de Andrade de 1928. Desde então, o espetáculo que acompanha o disco já foi remontado diversas vezes e em diferentes formatos. Agora, Iara retorna aos palcos com uma nova versão, que será apresentada no Sesc Vila Mariana, em São Paulo.
As apresentações serão nos dias 6, 7, 9 e 10 de fevereiro, num show que mistura não só música como dança e teatro. Para o novo formato, Iara não fez algo 100% inédito, utilizou como base a montagem feita no Teatro Oficina em 2010. Muita coisa, porém, mudou. “Nao parti do zero, mas estou há meses trabalhando nisso”, ela conta ao Estado. “Não tem apenas os textos do Mário de Andrade, que já está presente em todas as canções, mas acrescentei outros textos, até mesmo do próprio Mário, em cartas sobre Macunaíma.”
Serão incluídos ainda textos mais antigos - há um, inclusive, do século 16 - e trabalhos mais novos, como canções inéditas da própria Iara. “A obra ‘e muito viva e tem a capacidade de ser contemporânea. Algumas coisas são muito interessantes, como o inimigo de Macunaíma, o gigante Piaimã comedor de gente, um tirano que dialoga com muitos governos atuais no mundo”, analisa a artista. “O espetáculo traz a tona várias discussões, mas sem ser uma obra panfletária.”
Outra mudança fundamental está no elenco. Em 2010, no Teatro Oficina, a atriz Thalma de Freitas foi a responsável por viver a personagem Macunawoman. Thalma não está no País e não pode participar do novo show. Com isso, Iara convidou um elenco que inclui a atriz transexual Aretha Sadick como Macunawoman Trans_mito, Pascoal da Conceição como Mário de Andrade e o Gigante Piaimã, Jaider Esbell como Makunaimã Xamã, Luz Marina como Maanape e Vanessa Negravat como Jiguê e Uiara. A própria Iara vive Makunaimãe, Ci, Uiara e Circe.
“Esse mito de Macunaíma é um Deus transformador, pode assumir diferentes formas, seja uma pedra, um animal, homem, mulher, trans. Ele transforma o mundo, as coisas, as pessoas, é um mito que está ligado a criação”, explica Iara, que quis manifestar no espetáculo as diferentes interpretações de Macunaíma pelos povos da floresta. “Até o modo como pronunciam esse mito é diferente. Quero dar voz a essa representatividade.”
O show mistura também tecnologia. “Tem também um videocenário, num trabalho do grupo Ligalight. São seis projetores nesse espetáculo, tem um apelo high tech.” Ao todo, são necessárias mais de 30 pessoas para o show acontecer. “São 22 no palco mais a equipe técnica”, numera a artista, contando com músicos, bailarinos e atores.
O espetáculo tem duração de aproximadamente duas horas e meia, mas Iara diz que, apesar de cansativo para ela, é recompensador. “É bem cansativo para mim, tenho canto, dança e texto. Em algumas músicas toco guitarra”, relata. “É um roteiro grande e complexo, são 27 cenas e coisas encadeadas, é diferente de um show de música normal, precisa de uma atenção muito grande e uma imersão total.”
Apesar de haver um desejo, ainda não há a confirmação de uma turnê do espetáculo. Para o público de outras cidades, porém, há uma notícia boa. Na última sexta-feira, 25, o Selo Sesc, responsável pelo lançamento do disco Macunaíma Ópera Tupi em 2008, disponibilizou, pela primeira vez, o álbum nas plataformas de streaming digitais.