‘O Cavaleiro da Rosa’ reflete sobre a passagem do tempo em temporada no Teatro Municipal

Peça de Richard Strauss estreia nesta sexta-feira, 5, curta temporada sob direção de Pablo Maritano e Roberto Minczuk

PUBLICIDADE

Foto do author João Luiz Sampaio
Por João Luiz Sampaio
Atualização:

Tempo, memória, ilusão, realidade. A conversa com o diretor argentino Pablo Maritano roda, mas acaba sempre retornando a uma percepção do mundo repleta de melancolia. 

“Vivemos em um mundo que achamos conhecer, que acreditamos ser o mesmo, mas no fundo nunca o é”, ele diz.

Elenco de 'O Cavaleiro da Rosa', que tem curta temporada no Teatro Municipal de São Paulo. Foto: Stig de Lavor

PUBLICIDADE

E é a partir desse pressuposto que ele dirige uma montagem de O Cavaleiro da Rosa, no Teatro Municipal de São Paulo, que estreia nesta sexta, 5. Ele já havia encenado a ópera no mesmo palco em 2018. Mas não se trata exatamente da mesma encenação. Os cenários precisaram ser refeitos - e o diretor aproveitou para trabalhar uma nova leitura para a obra.

O Cavaleiro da Rosa estreou em 1911 e foi escrita a partir de um libreto de Hugo von Hoffmannsthal. O enredo se passa na Viena do século 18. A experiente Marechala se apaixona pelo jovem Octavian; seu primo, o barão Ochs, quer se casar com a jovem Sophie. Mas os adolescentes acabam se apaixonando - e a partir daí uma série de idas e vindas carrega a história a seu desfecho, em uma mistura de “comédia de salão com reflexões quase metafísicas”, como bem define Maritano. 

Em 2018, ao falar sobre a produção, o diretor questionava-se sobre os significados que a paixão pode ter para cada personagem, abordando temas como sexualidade e convenções sociais. Esses elementos seguem presentes. Mas, quatro anos - e uma pandemia - depois, o diretor tentou explorar outras camadas. “Há um conceito diferente, ligado a mundos que somem e aparecem”, explica ele. 

E isso se aplica tanto ao mundo em que vivem as personagens - uma Viena do passado recriada pela sensibilidade da Viena do início do século 20 - quanto para o conflito de cada uma das personagens.

“Nos anos 1910, quando a ópera surge, há esse olhar para o passado, mas também o fato de que esses artistas estão em um mundo que vai mudar para sempre. Logo viria a Primeira Guerra e o mundo como era então conhecido desapareceria”, lembra Maritano. “Do ponto de vista dos personagens, ele chama atenção também para o fato de que “estão diluídos no universo freudiano, em uma percepção da realidade como sonho”. 

Publicidade

Carla Filipcic, que vive a Marechala, concorda. “As circunstâncias a levam a refletir sobre o tempo e, assim, sobre seus próprios sonhos”, diz. 

O elenco conta ainda com a meio-soprano Luisa Francesconi (Octavian), a soprano Lina Mendes (Sophie), o barítono Hernán Iturralde (Ochs) e o tenor Atala Ayan (tenor italiano), entre outros. Roberto Minczuk rege a Orquestra Sinfônica Municipal e Maíra Ferreira, o Coral Paulistano

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.