Talvez a única nota dissonante - e positiva - no anúncio do Oscar 2012 seja a presença do iraniano A Separação, não apenas na categoria filme estrangeiro, na qual é favorito, mas entre os concorrentes a melhor roteiro. Como, de fato, o roteiro (escrito pelo próprio diretor Asghar Farhadi) é exemplo de engenho e arte sem par, o reconhecimento preliminar mostra que a Academia atual está antenada para o que ocorre no resto do mundo. Bom sinal. Sinal de abertura que se confirma no já esperado grande número de indicações para o francês O Artista, que concorre em dez categorias - filme, direção (Michel Hazanavicius), ator (Jean Dujardin), atriz coadjuvante (Bérénice Bejo), direção de arte, música, fotografia, figurino, montagem e roteiro. O Artista, já comprado no Brasil pela Paris Filmes, é um retorno à estética do filme mudo e ambienta-se na Hollywood do final dos anos 1920, exatamente no momento em que o cinema falado começa a se impor. Foi uma revolução e, como todas, deixou muita gente pelo caminho. Entre eles, o personagem George Valentim (Dujardin), ator de sucesso que cai em desgraça por não se adaptar aos novos tempos. Totalmente em preto e branco (muito bonito, aliás), o filme aposta tudo na sua estética retrô, voltando ao tema de um dos grandes filmes de Billy Wilder, Crepúsculo dos Deuses, de 1950. Mas se Wilder fala da transição entre o sonoro e o falado em um filme com diálogos, Hazanavicius faz tudo como se filmasse na própria década de 1920. O filme é encantador e sai como favorito às estatuetas que serão distribuídas dia 26 de fevereiro, no Kodak Theater. A julgar pelas indicações, O Artista concorre com Os Descendentes, de Alexander Payne (indicado para melhor diretor) e interpretado por George Clooney (candidato a melhor ator). Hugo Cabret, de Martin Scorsese, tem 11 indicações, mas os ventos sopram a favor de O Artista, que já ganhou vários prêmios, incluindo o Globo e Ouro e o do influente Sindicato dos Produtores.