De lá para cá.
Personagem de 'Hiroshima': apenas vê a vida passar. Foto: Divulgação
Em 2004, os uruguaios Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll ganharam o Festival de Gramado com um filme profundo em sua forma simples,
Whisky
. Em 2006, Rebella morreu. Suicidou-se. Agora Stoll lança
Hiroshima
, seu novo filme, e o dedica ao amigo.
Há muita solidão nessa obra de título estranho (a origem irá se explicar apenas no final). Ele começa com um longo plano-sequência do personagem principal, andando pela rua, ouvindo seu walkman e dirigindo-se à sua casa, onde mora com os pais. Lá encontra uma série de recados. Deve arrumar seu quarto, lavar as louças, fazer compras e, sim, assistir à TV, que irá transmitir um concurso no qual ele está inscrito. O prêmio, que ele talvez não queira receber, é um emprego nas ferrovias uruguaias.
O filme não tem diálogos, assim como o personagem não tem rumo. Stoll usa o recurso, que às vezes parece anacrônico, do tempo do cinema mudo - quando os personagens dialogam, aparece na tela um letreiro com o que dizem. O resto é música. Ou silêncio.
De certa forma, o anacronismo comenta o que parece ser o alvo crítico de Stoll - o ar um tanto velho e sufocante de uma sociedade que lhe parece estagnada. Juan Andrés é esse tipo ideal do jovem perdido, já não um adolescente, que apenas atravessa a vida sem qualquer projeto aparente. Anda pelas ruas, namora, escuta música e apenas tem em vista um show de rock do qual irá participar à noite.
O cinema solo de Stoll, seguindo a linha daquele que fizera em parceria com Rebella, é bastante alusivo, pessoal, sem concessão ao tipo de linguagem cinematográfica mais agradável ao grande público. Para os cineastas que se limitam a dizer que gostam de "contar uma boa história", Stoll revela os encantos e sentidos possíveis de uma não-história.