Para se livrar dos ares soturnos de Ingmar Bergman e da sua Sonata de Outono, Andrea Beltrão e Marieta Severo recorreram a Newton Moreno. Depois de enveredar por uma adaptação para os palcos do filme do diretor sueco, as intérpretes encomendaram ao dramaturgo pernambucano um texto que fosse mais colorido, mais solar. Nasceu assim um dos maiores êxitos do teatro nacional recente: o espetáculo As Centenárias, de 2007.Curioso é que seja tão semelhante o ensejo por trás de Maria do Caritó, peça que Lilia Cabral protagoniza no Rio há dois anos e que abre temporada sexta em São Paulo. Foi também cansada de penar com papéis dramáticos que a atriz pediu ao autor que lhe escrevesse uma comédia. Na novela Viver a Vida, em 2009, Lilia era Tereza, mulher traída pelo marido e que padecia com o trágico acidente que deixou sua filha tetraplégica. Antes, em A Favorita, de João Emanuel Carneiro, já havia amargado dissabores como a sofredora Catarina, dona de casa constantemente espancada pelo marido. "Eu estava mergulhada nisso por dois anos. Apanhava, era traída. Queria algo diferente. Uma comédia, sim. Mas não qualquer comédia", disse a atriz ao Estado. "Tenho um prazer enorme em ver que o público está se divertindo e logo depois está chorando." Expediente que lembra sua atuação em O Divã, montagem teatral de sucesso que se tornou filme e seriado televisivo. Maria do Caritó garante a Lilia Cabral o chão propício para esse trânsito incessante entre a farsa e a emoção. Na produção, dirigida por João Fonseca, ela vive uma casta solteirona. Prometida pelo pai em casamento a um santo, a moça passa também a ser cultuada pelos fiéis da cidadezinha onde vive. Acreditam que ela seja capaz de fazer milagres, curar doenças. Maria, contudo, gasta todo o seu tempo a cultuar um outro santo - Santo Antônio - , na esperança de que ele lhe dê, enfim, um marido.