Anos de reza brava, bruxaria, muito incenso queimado, e, principalmente, milhões de livros vendidos depois, Paulo Coelho finalmente atinge a imortalidade. Hoje à noite, o mago veste o fardão bordado com fios de ouro, pago pela Prefeitura do Rio de Janeiro, para a cerimônia de posse na Academia Brasileira de Letras. Além de ser o acadêmico mais conhecido dentro e fora do Brasil, ele também torna-se o imortal mais jovem da casa, aos 54 anos. A espada na cintura (que faz parte do traje completo dos acadêmicos) não precisa mais ser usada contra os esgrimistas da ala intelectual da ABL, que preferiam ver empossado o cientista político Hélio Jaguaribe, mas não deixa de ser um símbolo apropriado para quem se autodenomina Guerreiro da Luz. Mesmo contrariando a crítica, o ex-parceiro hippie de Raul Seixas conseguiu se tornar conhecido em 54 línguas, vender mais de 40 milhões de livros, e ocupar a lista dos mais vendidos em países de cultura literária sólida como França e Alemanha. Madonna e o ex-presidente Bill Clinton declararam que ´O Alquimista´ é seu livro de cabeceira. Na ABL, ele chega depois de uma luta dura. O mago derrotou Jaguaribe em dois turnos, em uma das disputas mais apertadas da história centenária da instituição, 22 votos contra 15 dados a Jaguaribe. Paulo Coelho vai ocupar a cadeira 21, que era de Roberto Campos, e cujo patrono é Joaquim Serra (1830-1888), jornalista e abolicionista que costumava assinar suas matérias como Tragalbadas. Coelho deverá seguir o script acadêmico e fazer um discurso em homenagem a Tragalbadas. Ontem, Coelho só saiu de seu apartamento na praia de Copacabana para votar. "Estou muito ansioso para a festa de hoje. O duro foi me eleger. Agora é hora de comemorar com meus amigos em uma cerimônia simples e para pouca gente", disse. A "cerimônia simples" contará com 400 convidados, 600 a menos do que normalmente os eleitos têm direito a convidar.