RODRIGO FONSECA Alfredo Castro, ator chileno de 66 anos, que virou um dos rostos mais icônicos do star system latino-americano pelo mundo afora após o êxito de "Tony Manero" (2008), deu ao 70. Festival de San Sebastián uma aula de lucidez política ao promover um dos 17 concorrentes à Concha de Ouro de 2022: "El Suplente". A produção argentina é uma ode ao papel resiliente da educação escolar nas lutas do cotinente contra a violência e a intolerância. O elenco internacional montado por seu diretor, Diego Lerman, valoriza toda a sabedoria de Alfredo. "Precisamo romper com a cultura do self e passar a nos enxergar no plural", disse Castro na coletiva de imprensa do longa, o mais arrebatador dos títulos em concurso já exibidos no festival, que é realizado desde 1953 no norte da Espanha. "Muitas vezes, tenho a sensação de que roteiros de cinema são escritos pensando nos jurados que vão aprová-los, o que os leva a serem muito explicativos, cheio de palavras. Quando eu pego um roteiro para ler, vou cortando falas. Gosto do silêncio", disse Alfredo ao Estadão. "Fico encantado com a mistura de documentário e ficção proposta por Diego nesse filme que fizemos. Estar ao lado de atores não profissionais nos exige um padrão mais radical de entrega". "El Suplente" narra a saga de um professor de Literatura, Lucio (Juan Minujín), que se esforça para salvar um estudante do universo de violência do tráfico de drogas. O personagem de Alfredo é o modelo de Lucio em suas crenças educativas. "A maior poesia que o professor encontra não é o verso formal, mas, sim, a forma como um aluno pode improvisar em aula", diz Lerman, que demonstra maturidade singular na direção de um elenco híbrido de estrelas e não atores. Sua montagem valoriza a dimensão existenialista de seu protagonista, da mesma forma como explora as angústias geopolíticas de uma escola acossada pela brutalidade do desamparo social. Mas sua reflexão não baixa a cabeça para o pessimismo, propondo uma ode ao poder redentor do ensino.

Até o momento, o único outro concorrente à Concha de Ouro que se destacou no gosto da crítica foi o doloroso longa dinamarquês "Resten af Livet", de Frelle Petersen. Jette Søndergaard pode sair do evento com o prêmio de melhor coadjuvante por seu desempenho como a auxilar de uma escola para jovens com síndrome de down cujo sonho é ser mãe. Sua vida harmoniosa entra em crise com a morte súbita de seu irmão, com quem tinha uma forte cumplicidade. O roteiro é de inteligência rara na forma como retrata as raízes afetivas desse clã, que busca se reinventar após o luto. Neste sábado, o festival aplaude "Avec Amour Et Acharnement", que deu o Prêmio de Direção à francesa Claire Denis na Berlinale, em fevereiro. A exibição do longa faz parte da homenagem que o evento presta à estrela Juliette Binoche. Ela será homenageada aqui com uma honraria por sua carreira: o trofeu Donostia. Além dela, o diretor canadense David Cronenberg também vai receber essa láurea honorária.