RODRIGO FONSECA Um dos nomes mais badalados do 24º Rendez-Vous Avec Le Cinéma Français, agendado de 14 a 17 de janeiro, online (via Paris) com "Está Tudo Bem" ("Tout s'est bien passé"), o diretor parisiense François Ozon vai abrir a 72ª edição do Festival de Berlim, no dia 10 de fevereiro com "Peter von Kant", em concurso pelo Urso de Ouro. O título já sugere escândalo - conceito que o prolífico realizador de "8 Mulheres" persegue longa-metragem após longa-metragem desde sua estreia, em 1988 - ao resgatar o cult dos palcos "Die bitteren Tränen der Petra von Kant" (1971), de Rainer Werner Fassbinder (1945-1982). As tais "lágrimas amargas", que o próprio Fassbinder filmou, em 1972, voltam agora aos cinemas numa releitura que muda os gêneros e coloca Denis Ménochet ("Custódia") à frente de uma trama antes protagonizada e coadjuvada só por mulheres. O projeto foi confeccionado às pressas, em meio à pandemia, enquanto o realizador de 54 anos colhia os louros pelo sucesso de um outro filme, "Verão de 85" ("Été 85"), selecionado por Cannes, indicado à Concha de Ouro de San Sebastián, no norte da Espanha, e agraciado com a venda de 304 mil ingressos em seu mês de estreia na França.
Em seu badalado, "Está Tudo Bem", Ozon parte do livraço de tons doidamente autobiográficos de Emmanuèle Bernheim (1955 - 2017) para contar uma história de eutanásia em que uma autora (a ótima Sophie Marceau) ajuda o pai (André Dussollier) a se livrar de sua dor. Adaptando-se as transformações mundiais impostas pelo recrudescimento da covid-19 e do boom da variante Ômicron, a Berlinale vai manter sua programação presencial de 10 a 16 de fevereiro. De 17 a 20, o evento vai ser aberto ao público, em salas específicas. No próximo dia 19 serão conhecidos os concorrentes ao Urso de Ouro. O anúncio será feito em uma coletiva especial, que relembrará a escolha da atriz Isabelle Huppert como a ganhadora do Urso Honorário de 2022.
Entre os nomes mais contados para concorrer estão:"SUBTRACTION", DE MANI HAGHIGHI (Irã): O maior bamba do humor no cinema iraniano aposta em uma narrativa de mistério para falar de conterrâneos que tentam escapar das censuras de seu regime político.
"MUSIK", DE ANGELA SCHANELEC (Alemanha): Três anos depois de conquistar o prêmio de melhor direção no próprio Festival de Berlim por "Eu Estava Em Casa, Mas..." (2019), a realizadora alemã volta ao evento com um drama regado a Complexo de Édipo. Na trama, um rapaz germânico criado por uma família adotiva na Grécia mata um sujeito sem saber que este é seu pai biológico. Na prisão, ele viverá uma história de amor com uma agente penitenciária mais velha, sem saber que esta é sua mãe verdadeira.
"FEU", DE CLAIRE DENIS (França): A diretora de "Bastardos" (2013) põe Juliette Binoche num dilema amoroso entre um amor maduro do passado e um querer jovial do presente. Vincent Lindon integra o elenco.
"PALOMA", DE MARCELO GOMES (Brasil): O realizador de "Joaquim" (2017) pode voltar ao festival que sempre o acolhe para narrar a luta de uma mulher trans para se casar na igreja, à moda antiga, em um rincão machista do Nordeste.
"CHOCOBAR", DE LUCRECIA MARTEL (Argentina): Quatro ano depois do aclamado "Zama", a diretora argentina aposta nas narrativas documentais, explorando os bastidores políticos da morte do militante indígena Javier Chocobar por latifundiários.
"LES PASSAGERS DE LA NUIT", DE MIKHAËL HERS (França): O realizador de "Amanda" (2018) dá a Charlotte Gainsbourg o papel de uma mãe de família que, abandonada pelo marido, vira radialista e adota uma jovem como sua protegida, passando por uma reeducação sentimental.
"PETITE FLEUR", DE SANTIAGO MITRE (Argentina): No novo filme do realizador de "Paulina" (2015), o ator uruguaio Daniel Hendler vive um autor de HQs obcecado com a ideia de que o seu vizinho é um inimigo.
Estima-se que o longa de encerramento possa ser "THE BATMAN", DE MATT REEVES. Uma vez que Berlim fechou sua programação de 2017 com "Logan", de James Mangold, seria bem provável vermos Robert Pattinson emprestando todo o seu carisma ao jovem Bruce Wayne numa Gotham doentia, assombrada pelo gângster Oswald Cobblepot, o Pinguim, confiado a Colin Farrell, e um psicopata cheio de enigmas apelidado de Charada (Paul Dano).