De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Ricardo Darín lota cinema em San Sebastián

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Por Rodrigo Fonseca
Ricardo Darín tem uma atuação devastadora no papel do promotor Julio César Strassera (1933-2015), responsável por levar aos tribunais os torturadores da Argentina  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Abarrotado de espectadores se acotovelando e, por vezes, chorando em coro, a projeção do thriller jurídico "Argentina, 1985", de Santiago Mitre, no Teatro Principal, neste sábado, que serviu como a primeira sessão oficial do longa-metragem no 70º Festival de San Sebastián, na Espanha, terminou com um aplauso caloroso. Isso sem contar uma salva de palmas que se ouviu durante o discurso de Ricardo Darín reproduzindo uma ação do promotor Julio César Strassera (1933-2015) a fim de condenar militares de alta patente responsáveis pela tortura em terras argentinas, durante a ditadura militar. Exibido na competição pelo Leão de Ouro do Festival de Veneza, de onde saiu com o Prêmio da Crítica, dado pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci), o longa-metragem de Mitre vai estrear na Amazon Prime (ou seja, diretamente no streaming) no dia 21 de outubro. Estima-se que ele saia do evento espanhol - onde integra a seleção Perlak - com a láurea de júri popular. O respeito da crítica (a ibérica e a de países latinos lá presente) essa aula de cinema político (fiel à linhagem de Francesco Rosi, Costa-Gavras, Elio Petri, Fernando E. Solanas) já tem. Colegas em "A Cordilheira" (2017), em cartaz na grade da HBO Max, Mitre e Darín dão carne e alma à reconstituição da peleja judicial encampada por Strassera, de outubro de 1984 a maio de 1985, para fazer justiça aos carrascos do governo fardado de Buenos Aires e arredores, ouvindo vítimas das Forças Armadas, torturadas "em nome da Lei". Contrariando ameaças telefônicas a ele e a seus filhos, o promotor entrou para a História como um herói do processo democrático. Darín encarna esse heroísmo com humanidade, de maneira dialética, numa atuação que pode leva-lo ao Oscar. Numa das melhores frases, pinçadas dos diálogos escritos por Mitre e Mariano Llinás, Darín diz: "Tortura não é estratégia política. É perversão moral". Neste domingo, às 19h30, acontece a sessão de gala oficial do file, com Darín conversando com o público, no Teatro Victoria Eugenia.

Outro título latino que encantou San Sebastián foi o documentário "Mi País Imaginário", de Patrício Guzmán, do Chile: Cada vez mais certeiro em sua concepção dramatúrgica, o octogenário documentarista por trás do premiado "O Botão de Pérola" (2015) revisitou, em Cannes, os protestos em prol da democracia que mobilizaram sua pátria em 2019. Passeatas que evocam o Golpe de 1973, na era Allende, são decantados sob uma lupa crítica, que mira nos soldos ditatoriais das Américas. Há dois anos, Guzmán saiu da Croisette com o troféu L'Oeil d'Or, a Palma da não ficção, por "A Cordilheira dos Sonhos". San Sebastián termina no dia 24, com a entrega da Concha de Ouro - que tem como principal concorrente, até agora, o argentino "El Suplente", de Diego Lerman - e com a exibição do thriller de tom noir "Marlowe", de Neil Jordan, com Liam Neeson.

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