Rodrigo Fonseca Diante da sessão de "Quando a Coisa Vira Outra", documentário sobre Vladimir Carvalho, no Canal Brasil, nesta segunda-feira, às 13h45, na faixa "É Tudo Verdade", um dos fotógrafos mais aclamados do cinema latino-americano - que é irmão do protagonista desse belíssimo longa de Marcio de Andrade - resolveu abriu seu baú de saudades, a pedido do P de Pop. Um dos diretores da novela "Pantanal", fenômeno da TV, Walter também aparece do .doc, trocando ideias com Vladimir, que teve fulcral importância em sua formação. Seu mestre e mano mais velho tem em seu currículo longas seminais como "Conterrâneos Velhos de Guerra" (1991) e "Rock Brasília" (2011). Sobre ele, Waltinho conta o seguinte:
"Quem aplicou o Sertão em mim foi Vladimir Carvalho. Em 1971, eu já estava morando no Rio, estudando Desenho Industrial na Uerj, e ele estava em Brasília, mas nós nos encontramos na Paraíba, para filmar o que viria a ser o meu primeiro filme. Mas eu dizia que não sabia ainda o que fazer, por estar descobrindo a fotografia. Mas o Vlad me disse: "Você é meu irmão. Se tu errar, eu não conto para ninguém". A ideia era aproveitar e visitar a nossa mãe, uma vez que eu estava no Rio há três anos. Quem aplicou o cinema em mim foi Vladimir Carvalho. Lembro quando ele me deu o livro do Albert Lamorisse, "O Balão Vermelho", que ficou na minha cabeça. Anos depois, conheci o filme do Lamorrisse, com o mesmo nome, e descobri uma narrativa que não tem uma palavra, nenhum código verbal. O filme é narrado todo pelo ponto de vista da imagem. Foi o Vlad que me levou ali. Minha caminhada de certa forma progressiva na direção do cinema, até a descoberta do primeiro set de um documentário, foi com ele. Se alguém tem culpa no que eu virei, chama-se Vladimir Carvalho. Consulto ele até hoje. Sempre o escutei muito. Se sou designer, cineasta, fotografo e documentarista... isso tudo veio do Vlad. A aplicação maior dessa substância chamada cinema em mim, que não têm mais cura, veio dele".
Em "Quando a Coisa Vira Outra", produzido pela jornalista e curadora Anna Karina de Carvalho, o diretor Marcio de Andrade mostra um Vladimir pé no chão, que, mesmo alvejado por patrulhas fardadas, deu ao cinema nacional um épico, "O País de São Saruê" (1971). Rodou ainda refinados retratos de artistas como o premiado "O Engenho de Zé Lins" (2006), sobre José Lins do Rêgo (o autor de "Fogo Morto"), e "Cícero Dias - O Compadre de Picasso" (2016). "Quais seriam os dois inimigos que o Vladimir combateu nos seus filmes? São a desigualdade e a luta contra a Censura", diz Marcio. "Ao falar sobre sua forma de fazer filmes, Vladimir diz: 'Isso é de um quixotismo atroz'. É uma frase muito do Vladimir, ele tem essa habilidade com as palavras".
p.s.: Vai ter Don Corleone neste "Domingo Maior" da Globo, às 23h40, na dublagem mais recente de "O Poderoso Chefão" (1972), com Alexandre Moreno dublando Al Pacino (o que é um regalo pro tímpano) e com um Luiz Carlos Persy glorioso, a ceder a voz a Marlon Brando.