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Pinchas Zukerman abre festival em grande estilo

Em Campos do Jordão, violinista israelense é o destaque

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Por João Marcos Coelho
Atualização:

Por conta da morte do ex-presidente Itamar Franco, fez-se 1 minuto de silêncio em sua homenagem e a Osesp deixou de executar o Hino Nacional no concerto de abertura do 42º Festival de Campos do Jordão, anteontem, no Auditório Cláudio Santoro. Invocou-se uma proibição nestas ocasiões, mas nada encontrei na legislação que proíba a execução do nosso Hino nestes casos - tradição que até agora não havia sido quebrada desde o primeiro festival, 42 anos atrás.Abertura festiva, dezenas de autoridades do governo estadual presentes, incluindo o governador Alckmin. O clima oficial desmanchou-se em uma atmosfera calorosa no memorável concerto Beethoven da Osesp com o violinista israelense Pinchas Zukerman, que completará 63 anos no próximo dia 16. Ele não é um maestro que toca, mas o contrário. Ainda bem. Na primeira parte, Zukerman regeu a abertura Prometeus e a bela e "mozartiana" Sinfonia nº 1. Tudo muito bom, mas convencional. A mágica aconteceu na segunda parte. A sensacional performance do Concerto para Violino me fez lembrar dos Persimfans, célebre orquestra sem regente dos anos 20 do século passado. A década mais criativa da Revolução Russa fez surgir em 1922 a primeira sinfônica sem maestro. Criada por Lev Tseitlin, professor de violino no Conservatório de Moscou, o grupo recebeu elogios de Klemperer e Prokofiev. Pois os Persimfans também estrearam num concerto Beethoven onde o ponto alto foi justamente o Concerto para Violino que ouvimos anteontem em Campos (em 1927, no centenário de nascimento de Beethoven, os Persimfans fizeram a integral das suas sinfonias - adoraria ter assistido, num lance mediúnico). Era visível o entusiasmo dos músicos, irmanados com Zukerman, que regeu com o arco os primeiros 3 minutos sinfônicos e tocou com os violinos até assumir a persona do solista, ora encantando a plateia, ora reintegrando-se à massa sinfônica. Os Persimfans são tratados nos livros acadêmicos como peça de propaganda comunista. Prefiro vê-los como uma maravilhosa utopia em miniatura. Afinal, como disse um músico da Osesp pouco antes do concerto, todo maestro deveria primeiro tocar bem um instrumento e só depois ocupar o pódio sem desprender-se de sua condição de músico. Ele apenas descrevia a incrível experiência de tocar com Pinchas, que, além de tudo isso, é excepcional violinista. A cadência final, no terceiro movimento do concerto, onde o solista reproduz o tema em toda a sua riqueza harmônica, é dificílima, mas tudo fluía de modo naturalíssimo - como a prática musical superior deve ser.Cortes visíveis. Não reina, no entanto, um clima eufórico neste início de 42ª edição do Festival. O novo (e excelente) modelo implantado em 2009 parece esvaziado. As quatro semanas foram reduzidas a três: na primeira os bolsistas estudam música de câmera; na segunda, preparam o programa sinfônico do concerto de encerramento; e, na última, tocarão em várias cidades do Estado. O curso de regência de música contemporânea, importante inovação de 2009, foi suprimido. E, por falar em música contemporânea, a Camerata Aberta, quase extinta há dois meses, conseguiu resistir, mas teve cancelado seu concerto no Festival. Foi por "estratégia e falta de datas, não por custo", afirma Paulo Zuben, diretor artístico do Festival. Pena. Os bolsistas já não terão a chance de constatar "in loco" que a música viva não só existe mas pode ser executada em nível relevado de qualidade.

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