Streaming: série ‘Rota 66′ honra o livro de Caco Barcellos

Produção joga luz sobre temas atuais: a truculência policial incentivada por um braço da mídia sensacionalista e políticos oportunistas que pregam a narrativa do ‘bandido bom é bandido morto’

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colunista convidado
Foto do author Pedro  Venceslau
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Por Pedro Venceslau e Radar do Streaming
Atualização:

Em tempo de exaltação à violência, a série Rota 66, da Globoplay, conta uma história ocorrida há 30 anos e joga luz sobre temas atuais: a truculência policial incentivada por um braço da mídia sensacionalista e políticos oportunistas que pregam a narrativa do ‘bandido bom é bandido morto’. A produção é baseada no livro Rota 66 – A História da Polícia que Mata, extraordinária reportagem do jornalista Caco Barcellos. A série é fiel ao livro: quando colocar câmeras no uniforme dos policiais parecia uma realidade distópica, o jornalista fez uma pesquisa minuciosa sobre a letalidade da Rota, a mais violenta unidade da PM de São Paulo, entre 1970 e 1992. Os números equivalem aos de guerras entre nações, motivo pelo qual o jornalista se considera um “correspondente de guerra”.

Armas plantadas

A investigação de Caco Barcellos começa pela morte de três jovens brancos de classe média alta nos Jardins, em 1975, sob a alegação de um tiroteio que depois se descobriu falso. O repórter (que é interpretado por Humberto Carrão) foi atrás de episódios similares ocorridos na periferia de São Paulo, todos sob a mesma justificativa. Muitos falsos tiroteios relatados pela polícia contaram com armas “plantadas” por agentes públicos na cena do crime. A série (criada por Maria Camargo e Teodoro Poppovic) e o livro mostram diversos casos em que as vítimas eram inocentes, tendo apenas tido o azar de ter cruzado com uma viatura da Rota. Dirigida por Philippe Barcinski, a série da Globoplay é uma dessas produções que chegaram na hora certa.

Adaptação modesta

O longa Eike – Tudo ou Nada, que está em cartaz nos cinemas e em breve chegará nas plataformas, é uma adaptação modesta do grande livro biográfico sobre o empresário Eike Batista escrito pela jornalista Malu Gaspar, cujo título inspirou o do filme. A versão cinematográfica parece mais uma paródia meio pastelão do ex-bilionário (vivido por Nelson Freitas) que seduziu o mercado financeiro vendendo vento. Com um ritmo rápido, o longa fez um resumo meio caótico do livro.

Realidade parece ficção

Essa história 100% real que parece uma ficção tosca tem como ponto de partida o ano de 2006, quando o Brasil passava por uma expansão econômica com o descobrimento do pré-sal e vislumbrava-se o País na linha de frente do planeta, com muito petróleo e a organização da Copa do Mundo, que ocorreria em 2014.

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Crime eleitoral

No momento em que a campanha eleitoral pega embalo, o filme Curral, de Marcelo Brennand, que chegou na Netflix, joga na cara da sociedade as engrenagens mais apodrecidas e enraizadas da política. O longa é uma ficção tão realista que tem cara de documentário. A história não é baseada em nenhum fato real específico, mas pode ser vista como a síntese de tantos outros que se repetem, especialmente nos grotões do Brasil.

Despedida

A produção foi um dos últimos trabalhos realizados pelo ator José Dumont, que está preso no Rio de Janeiro acusado de pedofilia. Ele faz o papel de prefeito corrupto que é um típico coronel.

Aula

Lançado em 2021, o longa Curral é uma verdadeira aula de pós-graduação na realpolitik do Brasil profundo. A história se desenvolve na pequena cidade de Gravatá, no sertão pernambucano, onde a água é a moeda de troca eleitoral mais valiosa.