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Festival de teatro mineiro celebra raízes brasileiras em programação diversificada

O evento, que se realiza de 5 a 11 de novembro em Belo Horizonte, recebe mais de trinta espetáculos, quatro deles internacionais

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Por Dirceu Alves Jr.

Um cortejo pela região central da capital mineira vai marcar a abertura do Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua de Belo Horizonte, o FIT BH, que, depois de um hiato de dois anos, por conta da pandemia, se realiza entre 5 e 11 de novembro. O desfile, comandado pelos cantores e atores Maurício Tizumba e Marcelo Veronez, contará com blocos de carnaval, do Reinado de Nossa Senhora do Rosário e da Folias de Reis, além da presença dos escritores Ailton Krenak e Conceição Evaristo, dois homenageados do evento.

É nesse clima de diversidade e valorização das raízes latinas e das nossas ancestralidades que a 15.ª edição do festival se anuncia sua programação. Serão apresentados mais de trinta espetáculos brasileiros, grande parte de Minas Gerais, e quatro estrangeiros, uma dupla deles vinda do Chile e outros dois da Argentina e do México.


Espetáculo 'Tijuano' estará o Festival de Teatro de BH Foto: Festival Escenas Do Cambio

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Sob a curadoria das atrizes Andreia Duarte e Yara de Novaes e do professor e pesquisador Marcos Alexandre, o conceito desta edição nasceu de um recorte que questiona “que país é este?”. O objetivo é trazer à tona questões pouco debatidas e artistas negros, indígenas, mulheres e LGBT+ em busca da visibilidade de amplas plateias. “Buscamos atender a todos os segmentos e montamos uma programação que pode agradar tanto ao público infantil quando aos idosos, nada é pensado para atrair somente a bolha dos artistas”, garante Andreia, que começou a trabalhar em junho para formatar essa edição.

Reflexões sobre questões sociais e dramas comuns a uma minoria permeiam os trabalhos escolhidos. O espetáculo mexicano Tijuano, do grupo Lagartijas Tiradas ao Sol, aborda as dificuldades de se sustentar em uma metrópole com um salário-mínimo. Vindo da Argentina, o monólogo Solilóquio, protagonizado pelo ator Tiziano Cruz, lança um olhar sobre se sentir imigrante dentro de sua própria terra. “É uma montagem que aborda a memória dos povos originários, do que eles poderiam ter sido se não fossem vítimas de tanta violência e exclusão”, ressalta Andreia.

Yara de Novaes salienta a presença do coletivo chileno La Patogallina, que recorre ao realismo fantástico em Fuego Rojo para tratar de uma América Latina em construção. Entre as produções brasileiras, a curadora chama a atenção para o grupo paraibano Ser Tão Teatro, que traz a peça Alegria de Náufragos, comédia inspirada em conto de russo Anton Tchekhov. “Um outro exemplo extremamente popular é Prot {Agô}nistas, um espetáculo de circo, protagonizado por um elenco preto, que vai cair no gosto de todos que assistirem”, diz Yara.


Peça 'Alegria de Naufragos' é um dos destaques do Festival de Teatro de Belo Horizonte Foto: Marina Cavalcante


Recém-lançado em São Paulo, o musical Museu Nacional - Todas as Vozes do Fogo, da Cia. Barca dos Corações Partidos, sobre o apagamento da memória brasileira, é atração confirmada. AnonimATO, montagem de rua da Companhia Mungunzá de Teatro, e Manifesto Transpofágico, protagonizado por Renata Carvalho, sãos outros exemplos. Os mineiros Galpão e a Quatroloscinco levam à cena respectivamente as peças Nós, dirigida por Márcio Abreu, e Tragédia, uma releitura contemporânea da tragédia grega Antígona. “Reunimos aspectos fundantes da nossa cultura, pensados sob uma outra perspectiva, a do nosso entorno, dispensado a visão eurocêntrica, colonizadora e privilegiando a América do Sul”, completa Yara.

Sobre o fato de os principais homenageados serem Ailton Krenak e Conceição Evaristo, nomes fortes do pensamento e da literatura, mas não ligados diretamente ao teatro, as duas representantes da curadoria explicam em uníssono. “O FIT BH é um festival que valoriza pessoas que influenciam e inspiram todos os artistas e, tanto Krenak quanto Evaristo, devem ser conhecidos, lidos e entendidos porque eles fazem parte dessa proposta que nos orientou na concepção da grade”, explicam as curadoras do festival, que ainda programaram uma ocupação em celebração ao diretor João das Neves (1935-2018), uma exposição em homenagem ao fotógrafo Guto Muniz e outra com o acervo do cenógrafo e figurinista Raul Belém Machado (1942-2012).

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