O que é ‘tube girl’, tendência do TikTok que tem feito pessoas se filmarem dançando no metrô?

Vídeos começaram com jovem de Londres, no Reino Unido, e se espalharam pelo mundo; entenda o que é a trend e conheça as mulheres que a trouxeram para São Paulo

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Por Julia Queiroz
7 min de leitura

Você dançaria livremente em um metrô cheio de gente? Essa é a ideia da “tube girl trend”, tendência que tem crescido exponencialmente no TikTok nas últimas semanas e levado pessoas ao transporte público para exercerem a autoconfiança.

A “tube girl trend”, que do inglês britânico coloquial significa algo como “tendência da garota do metrô”, promove que mulheres segurem o celular e se gravem dançando enquanto estão no trem, sem se importar com os olhares à sua volta.

A ideia começou com uma jovem de Londres, no Reino Unido, mas rapidamente se espalhou pelo mundo. Vídeos de garotas fazendo a “tube girl trend” no metrô de São Paulo já aparecem rapidamente quando se pesquisa o termo no TikTok. Veja um exemplo:

Como a ‘tube girl trend’ começou?

Tudo começou com Sabrina Bahsoon. A jovem de 22 anos cresceu na Malásia e se mudou para Londres, no Reino Unido, para cursar a faculdade de direito. Ela já postava vídeos no TikTok com frequência, mas em um dia de agosto resolveu gravar a si mesma dançando no metrô da cidade.

“Quando você é a única amiga que mora do outro lado da cidade, então você tem que se dar confiança no caminho”, dizia a publicação. Até o momento, o vídeo de Sabrina tem quase 11 milhões de visualizações.

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A publicação foi seguida por pelo menos mais 20 vídeos no mesmo estilo, todos com milhões de visualizações. Em pouco mais de um mês, ela foi destaque de reportagens do Washington Post e da BBC News, fez campanhas publicitárias para marcas como Boss e MAC e ainda ganhou um convite para a Semana de Moda de Paris.

As “tube girls” começaram a surgir por toda parte - ao menos, foi o que pareceu para quem foi impactado pela trend no TikTok. Teve até quem mostrasse os bastidores e brincasse com a vergonha alheia pela situação.

Quem são as ‘tube girls’ de São Paulo?

Sabrina começou um movimento que se espalhou pelo mundo e influenciou algumas corajosas a fazerem o mesmo em suas cidades. Uma das primeiras a trazer a trend para São Paulo foi Victória Brusco, de 26 anos, atriz, escritora e criadora de conteúdo - é ela quem você vê no primeiro vídeo desta reportagem.

“Eu vi todo esse movimento desde o começo. Lembro de ver os primeiros vídeos [da Sabrina Bahsoon] e ela simplesmente estourou em muito pouco tempo. Foi muito legal ver esse movimento se criando ao redor do mundo”, lembra ela.

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Victória percebeu que os vídeos começavam a chegar em outros países, mas não no Brasil. “Era a ‘tube girl’ de Praga, a ‘tube girl’ de Berlim. Eu falei: ‘Como que não chegou isso no Brasil ainda? Não é possível que o brasileiro não tomou as rédeas dessa trend. Se alguém não teve essa vergonha na cara ainda, tem que ser eu”, diz.

Foi assim que, no dia 21 de setembro, aproveitou que precisaria pegar a Linha 7-Rubi da CPTM para chegar a uma gravação e decidiu que era agora ou nunca. “Pensei: ‘Se eu não fizer agora, talvez não tenha coragem de fazer depois’. Peguei, saquei o celular, gravei e postei na hora”, conta.

O resultado conta com mais de 245 mil visualizações. Veja:

A influenciadora digital Sabrina Pimentel, também de 26 anos, foi outra que se ‘arriscou’ na trend depois de ver os vídeos de Sabrina Bahsoon. Ela pegou a Linha 3-Vermelha do metrô de São Paulo só para gravar o vídeo, que foi postado no dia 20 de setembro.

“Achei muito legal a maneira como ela é confiante e aquilo me motivou a fazer. Eu pensei: ‘será que consigo?’. Na hora me deu um pouco de vergonha e medo, mas consegui. Aí, cada vez que eu filmava ficava mais fácil”, conta.

O vídeo já tem mais de 356 mil visualizações. Outro semelhante, postado pouco dias depois, acumula cerca de 160 mil até o momento.

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Qual é a reação das pessoas?

Victória e Sabrina perceberam reações parecidas das pessoas do metrô: olhares curiosos, conversas e até gente filmando. “Não teve nenhum ato de violência, ninguém chegou a falar nada”, esclarece Victória.

Foi bem aquelas coisas que você olha e fala: ‘Mais uma acontecimento diferenciado no meu dia em algum transporte público de São Paulo. É normal da metrópole, o paulistano já está um pouco acostumado com as ‘performances’ de rua.

Victória Brusco, sobre gravar a 'tube girl trend'

Já nas redes sociais, a reação foi mais diversa: “Metade das pessoas sente uma vergonha alheia absurda, em um nível de não conseguir terminar de ver o vídeo, e outra metade acha incrível, um super ato de empoderamento e autoconfiança”.

Sabrina destaca: “A maioria das pessoas me encorajam. ‘Parabéns pela coragem, quero ser assim’. Esse é o diferencial: as pessoas não têm essa coragem de serem confiantes em público e, quando elas veem alguém fazendo isso, admiram”.

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Essa autoconfiança é, segundo Victória, o que explica a “coragem” ou a “falta de vergonha” mencionada pelos internautas. “A vergonha, muitas vezes, é a gente que carrega. Quando você ultrapassa essa barreira e se coloca a frente, se dispõe a se expor no mundo, percebe que grande parte dela é um medo nosso”, diz.

“Tiveram muitos comentários em tom de zoeira, me caçoando. Se eu não tivesse uma base sólida de autoconfiança, isso talvez fosse me pegar em outra instância. Ia atacar alguma insegurança minha. Mas como isso já é muito bem construído, acaba habitando em um espaço em que isso não faz tanta diferença. O que os outros vão achar perante a gente não dita moral sobre quem a gente é”, completa.


*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais