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Teatro de graça faz sucesso em Buenos Aires

O ator Osvaldo Santoro é o primeiro profissional a adotar o teatro "a la gorra" na Argentina. Ou seja, após a apresentação de Pequeños Fantasmas, os atores passam o chapéu pela platéia

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Por Agencia Estado
Atualização:

Para ganhar os aplausos da platéia vale tudo, inclusive passar o chapéu. O tradicional teatro argentino, que movimenta US$ 20 milhões todos os anos, rendeu-se à crise e agora busca meios de superá-la. O ator Osvaldo Santoro tomou coragem e é o primeiro profissional a adotar o teatro "a la gorra" da Argentina, onde não se paga nada e se espera a boa vontade dos espectadores no fim do espetáculo. É um sucesso e um símbolo da resistência. Segundo a Associação de Empresários Teatrais, o número de espectadores diminuiu quase 50% no ano passado e se espera um primeiro semestre de 2002 ainda pior. Algumas casas da Avenida Corrientes, um dos principais pontos de concentração em Buenos Aires, fecharam ou viraram templos evangélicos. Com a classe média empobrecida, as salas estão ficando cada vez mais vazias. A peça Pequeños Fantasmas, dirigida por Manuel González Gil, estreou em fevereiro num outro teatro, o Multiteatro, com um público médio de 50 pessoas e ingresso a 20 pesos. No início do mês, mudou para uma sala que estava fechada havia oito anos e adotou o método "a la gorra". A platéia saltou para cerca de 300 pessoas. A renda praticamente se manteve, já que algumas pessoas deixam entre 5 e 10 pesos. Mas são os muitos que não deixam nada que alegram Santoro. "São pessoas que iam ao teatro, da classe média, mas que agora não podem mais. Elas vêm bem vestidas só que sem dinheiro. Cada um de nós deve ser solidário nessa crise e esta é a minha contribuição", afirmou o ator. Aos 54 anos, Santoro diz que nunca viveu uma situação como a atual e sua decisão foi um ato de protesto. Na peça, o personagem Miguel é um médico de 40 anos que se recorda do passado e o compara com seu momento presente. Contracenando com atores-mirins, que recebem 500 pesos por mês, ele se reencontra com a criança que era e entende por que a situação atual é tão ruim. "A Argentina é um país que vai para trás, quando nós vamos para a frente." Para superar a crise, os teatros argentinos estão reduzindo seus preços. Os ingressos que antes custavam 30 pesos, ou 30 dólares, podem ser encontrados hoje por 10. No fim do ano passado, o governo iniciou uma campanha com a emissão de 5 milhões de cupons de descontos valendo até 5 pesos para cada entrada que podem ser usados num outro espetáculo. "Existe uma crise que não é do teatro, mas do negócio teatro", assegurou Carlos Rottemberg, um dos principais empresários do setor na Argentina. O governo aposta ainda no teatro argentino como um ingrediente a mais para atrair os turistas estrangeiros, sobretudo se a moeda continuar desvalorizada. O alvo são os países hispânicos vizinhos, como Chile, Uruguai, Paraguai e até Bolívia, onde não existe a barreira do idioma. De 10 a 14 de abril, em Buenos Aires começará o ciclo Todos al Teatro. Em 70 salas da cidade, haverá apresentações de peças novas e outras que já saíram de cartaz. Uma pechincha a 3 pesos.

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