“É a batalha do passinho / Os mlks são sinistro / Quero ver quem é o melhor / E quebra quebra de ladinho / VAI VAI VAI!”
É ao som de A Batalha do Passinho (quem já ouviu, sabe que não é possível ler a letra sem ouvir a batida de fundo), de Vinimax e Phabyo DJ, que o Rio anuncia a aprovação do mais novo Patrimônio Imaterial da cidade: a Dança do Passinho. A vereadora Verônica Costa (PMDB), conhecida como ‘Mãe Loira do Funk’, foi a responsável pela apresentação do projeto, que tramitava desde 2017. “Sou funkeira, mulher e nasci em comunidade. Conheço, de viver, o preconceito em relação ao funk e aos favelados. Não é de hoje que o nosso movimento é criminalizado. A política das UPP’s foi equivocada, sufocou o funk e outras manifestações culturais, impedindo jovens e artistas de se manifestarem livremente, e com criatividade, nos espaços públicos”, conta Verônica, sobre a motivação do projeto.
O Passinho é uma dança social, que surgiu no interior da cultura funk, nas comunidades cariocas, no início dos anos 2000. “Sabe quando você vai a um baile e não sabe dançar funk, você escuta aquela batida e começa a balançar, se mover com ela? O Passinho foi surgindo dessa maneira, naturalmente”, é o que conta Jackson Carvalho, de 25 anos, um dos relíquias – como são chamados os dançarinos mais antigos, que variam entre 24 e 30 anos. Outro nome comum, entre os praticantes de Passinho, é rei do passinho, mas, diferentemente das monarquias mundo afora, no Passinho, o reinado é coletivo; são vários os reis.
Apesar do Passinho já ter expandido fronteiras, como em 2014, quando a Batalha do Passinho aconteceu em Nova York, no Lincoln Center, a criminalização ainda é uma realidade enfrentada por esses grupos. De acordo com Verônica Costa, a aprovação do projeto é um passo para acabar com o estigma: “Esse reconhecimento dará mais visibilidade para o movimento Passinho Carioca, e ao funk, de modo geral. O poder público deve promover festivais, assim como parcerias com a iniciativa privada. A ignorância e o preconceito devem igualmente arrefecer”.
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“Não se pode nunca desassociar o Passinho da cultura funk, que é sempre perseguida e criminalizada. A proibição dos bailes acontece cada vez mais”, explica Emílio Domingos, diretor do documentário A Batalha do Passinho (2013), que revela o desejo de produzir imagens não estereotipadas da cultura das favelas: “Esses lugares, onde habita a maioria da população, são espaços que, tradicionalmente, geram manifestações muito importantes para a cultura brasileira: o samba, o funk, entre diversos outros”. A resistência à violência é uma das características dessa dança, como conta Leandra Perfects, moderadora de página no Facebook: “Quem tem poder hoje, na favela, ou é dançarino ou é traficante”, confirma Jackson: “O Passinho pode tirar os olhares de uma criança do traficante que está portando uma arma. Então, eu acho que é uma resistência à violência”.
Em 2014, a trajetória artística do paranaense Rodrigo Vieira foi transformada pelo convite de Lavínia Bizzoto, para coreografar 11 bailarinos de Passinho de diferentes comunidades. “Vencer a discriminação e ganhar o asfalto (no caso, o teatro), já era um grande passo”, conta Rodrigo, que completa: “A minha relação com a dança Passinho modificou a minha perspectiva sobre o corpo e a dança. Como era possível tanto conhecimento, ritmo e dança vindo daqueles corpos que nunca tinham sido formados por escolas, grupos ou instituições? O Passinho provoca questões. Eles conseguiram o que poucos movimentos conquistaram: respeito e escuta”. Jackson Carvalho, que, sob a direção de Rodrigo, assinou a coreografia Os Clássicos do Passinho (2017), conta sobre a experiência de troca: “Fui vendo a maneira como o Rodrigo e a Lavínia trabalhavam e só incrementei com a verdadeira história do Passinho. Para o pessoal entender de onde o Passinho veio, como é a dança, etc.”.
Em São Paulo, É na Batida (2017), último trabalho de Rodrigo Vieira, estreou no Centro Cultural Olido, e, segundo ele, outras produções estão a caminho.
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