Uma grande parcela de jovens brasileiros tem interesse em trabalhar na área científica. Esse é o resultado do relatório da Organização para a Cooperação para Desenvolvimento Econômico (OCDE) recém-divulgado.
A pergunta feita para estudantes de 15 anos colocou o Brasil acima da média de nações desenvolvidas. Esse desejo pode ser percebido nas mais de 182 escolas que foram ocupadas em São Paulo, desde o ano passado, e a onda de jovens gritando Ocupar e Resistir! em mais de 1.000 escolas no Brasil.
Esse panorama é parte do que inspirou o espetáculo Salve, Malala!, dirigido por Cris Lozano e que será apresentado neste domingo, 11, às 16h, no Sesc Sorocaba. Tendo como base a história da garota ativista nascida no Paquistão, a montagem passou os últimos meses circulando por escolas do interior, o espaço ideal para a seguinte pergunta: O que você quer ser quando crescer? “As respostas são infinitas”, é o que recorda o ator Alessandro Hernandez.
Ao lado de Léia Rapozo, eles vivem duas crianças em uma aldeia sitiada. A atmosfera tem origem na trajetória de Malala Yousafzai, Nobel da Paz de 2014, que foi baleada pelo Taleban em 2012 porque insistiu em frequentar as aulas. “É esse espírito de rebeldia juvenil que tem tomado conta dos nossos estudantes. O reconhecimento da escola como lugar de crescimento como cidadãos”, explica a diretora.
Na peça, esse local não é definido geograficamente, embora os trajes típicos do Sul da Ásia indiquem uma cultura da região. “Ele estão fugindo, com roupas e objetos que recolheram durante os bombardeiros”, conta Léia.
Malala não é um personagem da peça. No lugar dela, as crianças Yan e Sofia encaram sua comunidade destruída e o único modo de sobrevivência será cultivar as memórias semeadas na sala de aula. “Cada coisa que eles trazem tem uma importância na formação e na relação de afeto com a escola.” Entre elas, estão várias peças de roupa, que invocam a lembrança de professores mortos.
E não se trata de qualquer mestre, mas daqueles que ensinam História, Filosofia e Artes. “São matérias que foram rebaixadas no ensino brasileiro, como se não servissem mais, ou que pudessem ser ignoradas. Essa escolha não é aleatória porque todas oferecem maneiras de olhar o mundo e discutir questões de trabalho, as relações sociais, a própria origem e até a morte e a existência”, conta Cris.
Desse corpo docente faz parte o professor Jardini, que tem o hábito de conversar com formigas e alimentá-las. É ele quem compara o funcionamento de um formigueiro com a estrutura política da comunidade de Yan e Sofia. “Ele explica que, por trás da guerra, há um rei ilegítimo que ordenou o fechamento de escolas, teatros e calou as manifestações artísticas”, conta Hernandez. “A rainha de vocês é bem diferente desse rei”, o personagem indica.
A memória artística também é retomada a partir de duas figuras conhecidas dos palcos brasileiros, as artistas Cacilda e Cleyde, em referência às irmãs atrizes Cacilda Becker e Cleyde Yáconis. Na peça, elas desembarcam na cidade como artistas mambembes, mas, logo após a apresentação, precisam sair às pressas porque o rei, mais uma vez, ordenou bombardeios.
No intervalo entre uma lembrança e outra, as crianças têm que percorrer o trajeto dentro de um ônibus escolar, tal qual a história de Malala e suas amigas. Cris acrescenta que o aprendizado ultrapassa os prédios da escola. “Existe uma comunidade ao redor de cada escola e ela contribui para o aprendizado. Seja museu, praça, mercado. É preciso valorizar essas interações.”
A dinâmica influenciou o próprio funcionamento da peça. Hernandez recorda que, nas vésperas de uma apresentação na periferia, a equipe precisou deixar o local porque traficantes anunciaram um toque de recolher. “Os moradores não se assustaram, porque isso já faz parte da rotina deles”, explica.
Ao fim de cada apresentação, Léia Rapozo conta que as crianças, entre 6 e 12 anos, não economizam comentários ao falar por que a escola é um espaço de batalha e a razão do tal rei estar interessado em tudo isso. “Os gritos de protesto surgem como zelo pela educação. Uma pergunta que sempre fazemos para elas é: Qual a sua escola ideal?”
Discurso de Malala atrai o mundo ao pedir educação
Assim como a ativista, o colombiano Juan Manuel Santos entra hoje na lista de premiados pelo acordo de paz das Farc
Não foi por caminhos fáceis ou seguros que a jovem paquistanesa Malala Yousafzai conquistou os olhares do mundo. Ao dividir o Prêmio Nobel da Paz com o indiano Kailash Satyarthi, ela se tornou a pessoa mais jovem a receber a condecoração.
Na cerimônia, ela carregava consigo as sequelas dos tiros que levou, quando tinha 15 anos, de membros do Taleban por insistir em frequentar a escola. “Este prêmio não é só meu. É das crianças esquecidas que querem educação. É das crianças assustadas que querem a paz. É das crianças sem direito à expressão que querem mudanças”, declarou, no dia da premiação.
Neste domingo, 11, será a vez do colombiano Juan Manuel Santos receber o prêmio por sua contribuição ao histórico acordo de paz entre as Farc e o governo colombiano.
De olho na premiação do próximo ano, o Brasil cogita indicar a farmacêutica Maria da Penha, que inspirou a lei criada para punir agressões e violência contra a mulher.
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