Kiara Sasso não pensou duas vezes para cravar: “Será o nosso Les Misérables”. A atriz e produtora, uma das mais importantes artistas do musical brasileiro, conversa com o Estado ao lado de um time de primeira: Lázaro Menezes, ator, diretor e seu companheiro na vida e na arte, Ulysses Cruz, um dos mais atuantes encenadores nacionais, e Letícia Wierzchowski, escritora gaúcha, autora do best-seller que reuniu todos em São Paulo, numa manhã da semana passada: A Casa das Sete Mulheres.
Lançado em 2002 pela editora Record e transformado em uma minissérie de grande sucesso pela Globo no ano seguinte, o romance será adaptado agora para o palco, em um monumental musical que deverá fazer uma curta temporada em Porto Alegre até desembarcar em São Paulo, onde ocupará um dos grandes teatros da capital – provavelmente o Bradesco. A estreia está prevista para 2019, possivelmente no segundo semestre. Mas os trabalhos já começaram: Letícia e Menezes trocam ideias sobre a adaptação, enquanto Cruz já desenha as cenas e Kiara cuida, entre outros assuntos, do processo de escolha do elenco e das canções. “A história de Letícia tem todos os ingredientes para um grande musical: heroísmo, fantasia, ética, emoção”, observa o encenador.
De fato, ambientada durante a Revolução Farroupilha (1835-1845), no Sul do País, a trama mostra como o líder do movimento, general Bento Gonçalves da Silva, isola as mulheres de sua família em uma estância afastada das áreas em conflito com o propósito de protegê-las. Quando a guerra começa a se prolongar, a vida daquelas mulheres passa por inúmeras transformações. “São esses ingredientes que aproximam o épico de Letícia a Os Miseráveis, de Victor Hugo, que inspirou o musical inglês e sua estrutura épica”, comenta Kiara que, junto de Menezes, comanda a O Alto Mar Produções, que vai viabilizar o projeto. Juntos, eles viajaram ao Rio Grande do Sul, na região onde se passa a trama a fim de manter um contato mais próximo com os costumes locais.
“A história será a protagonista do musical, pois aquelas sete mulheres têm um fardo, um destino a cumprir”, observa Menezes que, gaúcho de nascimento, vai cuidar do sotaque do elenco e ainda da pesquisa musical, que contará com cantigas típicas do Rio Grande do Sul. “Vamos utilizar canções da minissérie, compostas por Marcus Vianna, que também vai criar composições especialmente para o espetáculo.”
O importante, segundo Letícia Wierzchowski, é valorizar a condição feminina. “O romance mostra como as mulheres eram obrigadas a gerenciar as estâncias, gerando recursos que sustentavam o governo e, portanto, a guerra”, diz ela, cuja inspiração para o livro nasceu da leitura de dois parágrafos da obra Os Varões Assinalados, de Tabajara Ruas. “É o trecho em que Giuseppe Garibaldi se refere a uma casa habitada por sete mulheres. Pedi a expressão emprestada a ele e criei toda a história.”
Com as mulheres ganhando cada vez mais seu devido espaço, Kiara acredita que o musical terá ainda mais força ao ressaltar a importância da resistência feminina. “Elas vencem todos os obstáculos”, afirma.
Mesmo com uma produção que promete efeitos especiais – afinal, não faltarão cenas com cavalos e, principalmente, a do famoso transporte de dois enormes barcos pelo campo, puxados por 48 bois –, Ulysses Cruz aposta na magia teatral. “Como Les Misérables, é um espetáculo com momentos grandiosos que incentivam a imaginação do público. Não precisamos mostrar tudo.”
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