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Antonio Fagundes relembra bastidores de ‘O Rei do Gado’: ‘Emagreci 10 kg em 15 dias’

Em entrevista ao ‘Estadão’, ator também fala sobre inspiração para seu personagem e abordagem da novela, que está de volta no ‘Vale a Pena Ver de Novo’, quanto aos Sem Terra

Por Eliana Silva de Souza

Após o sucesso da novela Pantanal, a Globo traz de volta nesta segunda, 7, outro clássico de Benedito Ruy Barbosa: O Rei do Gado. A trama original ganha exibição especial dentro do Vale a Pena Ver de Novo, substituindo A Favorita, com quem divide a faixa horária nesta primeira semana. Dirigida por Luiz Fernando Carvalho, produção foi ao ar em 1996 e chegou a ser vendida para cerca de 30 países.

Feita em duas fases, a novela inicia sua história nos anos 1940, quando a fase cafeeira está em declínio. Em meio à crise econômica enfrentada, duas famílias rivais, os Berdinazi e os Mezenga, terão essa divergência ainda mais acentuada quando descobrem que seus filhos estão namorando. E essa briga entre os coronéis seguirá por gerações.

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A produção marcou a teledramaturgia não apenas por sua história, mas por colocar em cena um elenco afinado e com nomes icônicos do cenário brasileiro. Foram muitos os momentos marcantes de uma história que trazia temas que ainda são atuais, como a luta por terras e o trabalho no campo. Mas é centrada em um novo caso de amor entre as famílias que se detestam. Integrante das duas fass da novela, o ator Antonio Fagundes puxa pela memória e conta algumas curiosidades sobre O Rei do Gado, onde viveu o rico fazendeiro Bruno Mezenga, que se apaixona pela boia-fria Luana (Patricia Pillar).

O Rei do Gado traz uma emocionante história de amor de um grande fazendeiro com uma boia-fria. Você se também foi cativado por ela, pela história?

O Rei do Gado é uma novela emocionante em todos os sentidos, não só por essa história do fazendeiro com a boia-fria, que já é uma coisa muito interessante de você ver, mas tem muitas outras histórias de amor dentro, muitos outros conflitos. Uma novela completa e com uma trilha musical maravilhosa. Então o que encantou e cativou a todos nós nessa novela foi realmente um conjunto muito talentoso, isso que foi bom em fazer essa novela.

Apesar de tanto tempo já ter passado, você se recorda como foi a preparação para os personagens? Teve alguma inspiração na composição?

A gente quase não teve muito fazer isso [a preparação dos personagens], porque a gente tinha um prazo para entregar e eu estava nas duas fases da novela. A gente gravou quase três meses no interior de São Paulo a primeira fase, que era, se não me engano, sete capítulos iniciais. Foi uma gravação intensa lá, a gente teve um intervalo muito pequeno da primeira para a segunda fase. Por isso não deu para a gente se preparar muito.

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Mas, de qualquer forma, eu conheci, viajando pelo interior de Goiás, um fazendeiro que era exatamente o ‘Rei do Gado’, exatamente o Bruno Mezenga, com um jeito que me interessou muito. Inclusive aquele jeito de falar, mexendo com as mãos, e aquela espécie de sotaque que ele tinha, com uma uma certa dificuldade em articular as palavras... Aquilo me cativou muito e eu me baseei nele para fazer o personagem.

Antonio Fagundes e Patrícia Pillar nas gravações de 'O Rei do Gado' Foto: Globo


E teve o lance de estar nas duas fases e não ter tempo de emagrecer (foi isso?) para ficar do jeito que tinha planejado...

A história de emagrecer não foi no começo, não, foi no meio da novela. O Benedito criou um acidente de avião para o Bruno Mezenga e ele ia sumir durante uns 15 dias, era um ponto dramático, com todo mundo procurando pelo Bruno e o avião tinha caído, e ele perdido lá, no meio do Araguaia.

O Benedito queria que eu emagrecesse naquele período e eu tinha só 15 dias para fazer isso, porque eu ia ficar só duas semanas fora do ar. Então eu tive que entrar num spa, foi um negócio bem violento. Passei 15 dias no Spa e consegui emagrecer 10 kg. Isso foi muito bom para a novela porque quando ele foi encontrado depois de duas semanas estava 10 kg mais magro, já que estava no meio da floresta. Então foi uma coisa que acabou dando certo.

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Vendo alguns vídeos de bastidores, foi um trabalho que exigiu bastante dos atores, não? Mas essas trabalhos também servem para unir todos, é o que parecia, diversão e parceria, foi assim mesmo?

O trabalho exigiu da gente no sentido de que a gente tinha que viajar muito. A gente ia muito para Araguaia, para Goiás, muitas gravações no interior de São Paulo. O elenco teve que se desdobrar entre as gravações do estúdio e fora do rio. Fora isso, realmente era um time muito bom de atores, todo mundo muito experiente, curtindo muito o que estava fazendo. A novela foi muito prazerosa para todo mundo que fez parte dela.

E com um elenco primoroso, Tarcísio Meira, Raul Cortez, extraordinários companheiros de trabalho, uma honra dividir com eles a cena. Eu tive poucas cenas com eles porque a gente quase não se cruzava. Com Tarcísio, seguramente, eu fiz uma ou duas cenas só, na primeira fase, e com o Raul a mesma coisa, na segunda fase. Mas foram grandes momentos para mim, foi inesquecível esse esse encontro. Fora isso, tinha Patricia Pillar, Gloria Pires, Stênio Garcia, Bete Mendes, um elenco que até é ruim a gente começar a falar porque eu vou esquecer dos outros todos, e eram todos maravilhosos.

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Patrícia Pillar na novela 'O Rei do Gado', que abordava o movimento dos Sem Terra em sua trama, em 1996 Foto: Arquivo

Uma história brasileira, mas que conquistou público fora do País. Qual seria o motivo para isso acontecer? Curioso ver as dublagens, tem a abertura em russo, diferente...

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Como você falou, uma história brasileira que conquistou o público fora do País, exatamente por ser brasileira, eu acho. O motivo principal era esse: tinha aquela aquela raiz da cultura brasileira. Você olha a novela e você reconhece ali um povo, um jeito de ser, de se comportar, que é diferente de todas as outras partes do mundo.

Eu sei que a novela fez muito sucesso em muitos lugares, na Rússia principalmente, na Hungria... Eu me lembro que fui entrevistado logo depois por jornais húngaros. Pelo talento das pessoas envolvidas e pela qualidade da história, mas também por essa marca muito forte da cultura brasileira que passava através de cada capítulo.

Logotipo de O Rei do Gado em francês Crédito: Reprodução Foto: Reprodução

A trama, envolvendo questão de terra, trabalho no campo, entre outras, ajuda a tornar a novela ainda atual?

A trama falando exatamente da questão da terra, uma questão que todo mundo, quase, foge de tocar nesse assunto, sempre muito problemático no Brasil. O Benedito, como sempre, com a sabedoria dele, conseguiu abordar com muita delicadeza e ao mesmo tempo aprofundar um pouquinho a questão da terra no Brasil. Colocar os Sem Terra numa novela, os boias-frias, uma coisa que só um autor de muitos talentos consegue fazer, e o Benedito, como sempre, fez como ninguém isso.

Lembra de alguma cena que mais te marcou, entre tantas?

Muitas, a novela inteira [era] cheia de cenas emblemáticas. A primeira vez que ele toca o berrante, uma coisa que emocionou todos, quando ele sofre um acidente e aparece no meio da selva comendo larvas, uma coisa que impressionou muita gente... O encontro dele no Araguaia, na primeira fase, a ida do filho para a guerra, querendo impedir, o Antônio Mezenga, avô do Bruno Mezenga... Enfim muitas cenas que a gente lembra com carinho porque todas elas foram muito emblemáticas.

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Como foi fazer esse personagem, que tanta história tem, com um texto que brindou o público com falas tocantes?

Fazer esse personagem foi um grande presente. Eu estava fazendo Renascer quando o Benedito me chamou e disse a história que ele queria que eu fizesse e me contou muito rapidamente no que era baseado, me lembro que, pelo pouco que ele contou, eu já fiquei encantado e naturalmente foi um segundo presente que eu tive do Benedito - o primeiro foi Renascer, que era uma novela que não sai do meu coração.

Mas o rei do gado também fez parte desse universo, todos os trabalhos que eu fiz com o Benedito, eu tive sempre muito prazer. Acho que foi o autor com quem eu mais trabalhei na Globo, talvez um pouquinho mais do que o Gilberto [Braga]. Mas foi o autor com quem fiz minisséries, novelas das 6, das 9. Um autor que gosto muito e virou um grande, grande amigo querido, o Benedito Ruy Barbosa.

Mudando de assunto: está com novos projetos? Pode falar o que tem feito no audiovisual?

Novos projetos, sempre. Sempre cheio de coisas. Eu estou envolvido ainda no desenvolvimento de uma série para o streaming mas ainda não posso contar.

Vou fazer um filme agora para o Cacá Diegues que é a sequência do Deus É Brasileiro, começamos a gravar em novembro. E vamos estrear no Rio de Janeiro, dia 13 de janeiro [de 2023], no teatro Clara Nunes, a peça Baixa Terapia, que está em cartaz desde 2017. Já tivemos mais de 350.000 espectadores, viajamos por 27 cidades do Brasil, fizemos uma longa excursão em Portugal onde tivemos mais de 60 mil espectadores, fomos aos Estados Unidos com essa peça... Faltava o Rio de Janeiro, que deixamos para o final porque queríamos uma temporada maior, e não simplesmente ‘passar’ pelo Rio.

E está no ar ainda uma série que eu fiz para a TV Cultura, Independências, que passa todas as quartas-feiras, às 22h, e reprisa no domingo às 22h, na TV Cultura.

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E o que tem lido? Acompanha alguma série, da uma dica?

Tenho lido bastante, sempre. Gosto muito das minhas leituras, e sempre com muito prazer. Série, terminei uma agora que eu fiquei apaixonado pela estética e pela história, que se chama Landscapers, está na HBO, são só quatro episódios, uma minissérie Mas é uma história muito bem contada, muito bem dirigida, com atores maravilhosos e direção extraordinária.

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