Quando fez o teste para interpretar o cadeirante Artie de Glee e não pegou o papel, Chris Colfer não podia imaginar que seu personagem - Kurt, criado sob medida para ele em sua estreia na TV-, teria tanto destaque, faria tanto sucesso com o público e lhe renderia, com apenas 20 anos, seu primeiro Globo de Ouro (há duas semanas), além de indicações ao Emmy e outros importantes prêmios da TV americana.
Gay publicamente assumido, Colfer sofreu na escola as mesmas ameaças que sofre seu personagem, e nesta temporada se diz orgulhoso por dar voz a um problema mundial: o bullying. Em entrevista à imprensa internacional, da qual o Estado participou, o ator fala sobre essa experiência.
Qual tem sido a reação do público sobre a questão do bullying na série?
As pessoas estão muito agradecidas. O bullying é um problema desde o começo dos tempos, e só agora estamos falando disso? Eu sofri no Ensino Médio. No meuFacebook ou Twitter, há mensagens de gente de todas as idades, tamanhos e raças muito agradecidas porque têm alguém com quem se identificar. Uma das mais emocionantes foi a de um garotinho do Nebraska dizendo: ‘Kurt me faz sentir como se eu não estivesse sozinho.’
Como você lidou com isso quando estava na escola?
Eu era bem irônico e tinha respostas na ponta da língua. Mas não recomendo isso, não era legal. Aprendi a correr bem rápido depois de responder certas coisas (risos). Lembro de alguém gritar: ‘Bicha’ pra mim no corredor, e eu respondi: ‘Você sabe soletrar isso?’ Eles achavam que era brincadeira. Mas eu não estava brincando. Agora eles querem ser meus amigos.
Você esperava ter esse destaque quando a série começou?
Tive uma intuição que isso tinha potencial para ser algo realmente grande, porque eu era uma dessas crianças, fazia parte de um grupo de teatro e era totalmente gleek (aficionado por coral de escola). Sabia que tinha público para aquilo. Mas quem poderia ter previsto tudo isso? No piloto, eu tinha duas linhas pra falar. Entrei pra série antes de o personagem estar escrito, não sabia o que faria.
Como isso aconteceu?
Fiz o teste para o papel de Artie (Kevin McHale), mas eles decidiram escrever um papel pra mim. E, como cresci em uma cidade muito conservadora e religiosa, fiquei apavorado quando descobri que meu papel seria de um gay, algo muito mal visto de onde eu venho. Só queria passar o máximo de verdade possível. Não queria que ele fosse uma piada constante, um saco de pancadas ou um assistente irritante, como eles geralmente são. A resposta positiva vem porque ele é real, é vulnerável.
Você e Kurt se parecem?
Ele é mais arrogante. Mas é muito fashion, usa aquelas roupas extravagantes. Para interpretá-lo, é só me vestir e fazer cara de superior. Já eu fico apavorado de usar qualquer coisa que não jeans e camiseta. Somos bem diferentes. Mas já passamos por coisas semelhantes. A emoção é a mesma.
Qual a maior mudança em sua vida pós-Glee?
A melhor parte é ir à Disney com escolta e furar as filas (risos). Mas mesmo criado de forma bem conservadora, na mentalidade de uma cidade pequena, recebi valores muito fortes, que ajudam a manter o pé no chão.
Qual foi a reação da sua família ao ver que você seria gay na TV?
Meus pais estão tão orgulhosos. É constrangedor, porque eles se gabam de mim constantemente. Isso me irrita. Meu pai quer que eu ligue para os amigos dele e diga que sou filho dele.(risos) É louco, porque quando volto à minha cidade e as pessoas ficam loucas porque estou lá, penso: ‘Gente, vocês sabem que eu sou daqui? Conheço todo mundo. Ainda sou a mesma pessoa.’
Você sugere canções para a série?
Sugiro muito, mas, às vezes, eles não querem ouvir (risos). As canções Defying Gravity (do musical Wicked) e Don't Cry for Me Argentina foram sugestões minhas. Eles estão muito abertos para minhas ideias. Olha, não sei como vou superar isso depois, com qualquer outro trabalho que eu venha a ter.