Em 11 anos de atividades, o Festival de Arte Serrinha teve seu período mais produtivo na semana que passou. Quem afirma é o próprio curador do evento, o cenógrafo e artista plástico Fabio Delduque. Foi a semana em que o cineasta Beto Brant e o músico Marcos Suzano conduziram oficinas específicas e juntaram forças num filme experimental de videodança exibido em partes no grande ateliê da Fazenda Serrinha - que tem registro de outros memoráveis workshops, festas, shows e happenings - no sábado à noite. Já na gelada madrugada foi a vez de a cantora Marcia Castro trazer seu calor baiano para o Galpão Busca Vida.Aprimorando-se a cada ano, agora com um pouco mais de divulgação e apoio de patrocinadores como a Sabesp, o festival vem atraindo atenção de mais gente interessada. "Mas está no tamanho certo, não deve diminuir nem crescer", diz o percussionista Marcos Suzano, que foi um dos que batizaram o evento com oficina na primeira edição.Suzano trouxe para seu workshop elementos que fogem dos chavões da percussão brasileira. "Procuro tentar desenvolver no cara que vai tocar percussão a necessidade de ele encontrar uma voz, uma linha de som, de timbres, porque acho que há um certo cansaço de estilo, de timbre. O Brasil está numa fase meio careta nessa coisa nacionalista, rítmica. Sinto que causa uma certa acomodação no percussionista brasileiro, que acha que tem suingue por natureza", diz. "Viajando pelo exterior, vejo percussionistas inacreditáveis, que fazem o conceito andar com a técnica. Então, você se dá conta de que precisa estudar. A gente às vezes se prende à estrutura de canção e perde no aspecto da experimentação." Brant também é veterano no festival, como curador das exibições e debates no Cine Rancho, mas pela primeira vez conduz um workshop. Como outros artistas que mergulham no espírito de intercâmbio e integração lúdica com o material orgânico e artístico da fazenda, Brant e seus colaboradores - como o coletivo de dança Cavalaria, dirigido por Luciana Brites, e o inquieto grupo musical Moustache & os Apaches - exploraram os elementos água, ar, terra e fogo para cenas de grande beleza cênica, mesclando humor, densidade e poesia. "Não é que a gente venha aqui só pela natureza, porque aqui o ambiente não é selvagem, é uma intervenção artística numa fazenda que já foi produtiva no agronegócio. Só que os descendentes são artistas", observa Brant.Entre cenas coreografadas e outras de improviso, a equipe esbanjou criatividade ao utilizar as instalações de artistas plásticos do acervo da fazenda, como a Retomada, de Rodrigo Bueno, numa leiteria desativada, e a Grande Espiral, de Bené Fonteles, que já é um clássico do local.Brant volta para exibir o material editado do filme na inauguração do Teatro Rural, no dia 29, quando o Moustache, Tatá Aeroplano, Tigre Dente de Sabre e outros artistas se apresentam no palco, encerrando o festival.