IGOR GIANNASI Como se diz por aí, o mineiro não fica doido, piora. E em cada cidade mineira há, pelo menos, um doido oficial - e em cada família, há um sistemático (que não chega a ser doido, só sistemático). Quem conta isso é uma mineira: a diretora teatral Regina Bertola. Natural de Barbacena, na Serra da Mantiqueira, ela usou este mote para fazer o espetáculo Ser Minas Tão Gerais, uma homenagem à obra do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade e à música do mais mineiro dos cariocas, o cantor e compositor Milton Nascimento - e que é um dos atores da peça. Comemorando algumas datas redondas em 2012- os dez anos de criação do espetáculo, os 50 anos de carreira e 70 de vida de Milton, e os 110 anos do nascimento de Drummond -, 'Ser Minas Tão Gerais' volta para apenas duas apresentações, no sábado (29), às 21h, e no domingo (30), às 18h, no Teatro Alfa, em Santo Amaro. O retorno marca também o lançamento, agora em outubro, mês de aniversário tanto do cantor quanto do poeta, da edição comemorativa do DVD da peça, que foi gravado em 2004, no Cine-Teatro Central de Juiz de Fora, com direção de Éder Santos. O musical que exalta a mineiridade foi montado em 2002 para apenas quatro apresentações e ficou quatro anos em cartaz. No fim de semana, Milton vai contracenar com 15 atores do grupo de teatro Ponto de Partida, de Barbacena, comandado por Regina, e com 36 crianças do coral Meninos de Araçuaí. No palco, são acompanhados por cinco músicos. No início do projeto, Milton foi convidado para assistir a um ensaio. Assim que viu a apresentação dos meninos, quis estar lá com eles. "Quando vi que a peça era toda baseada na obra do Carlos Drummond de Andrade e nas minhas músicas, com coisas também do norte de Minas, falei: 'não vou ficar aqui sentado na cadeira, não, vou ser ator também'", lembra. O artista, desde então, participou de todas as apresentações, inclusive em Paris, no Théâtre des Champs Élysées, em 2005, no Ano do Brasil na França. A história se passa em uma cidade pequenininha de Minas, onde o grupos de doidos e sistemáticos ficam no aguardo da volta do artista mítico - Milton - que um dia foi embora, na esperança de que ele resgate todos os sonhos de seus moradores. Nesse tempo de espera, afloram as manifestações culturais locais, como a congada e a catira. "O espetáculo descortina um Brasil que pouca gente conhece. Ele nos confronta com nossa origem mestiça. Tanto que esse compositor, que tem uma obra absolutamente genial e que passou pelo mundo inteiro, bebeu dessa fonte", observa a diretora. Essa não foi a primeira vez que o Ponto de Partida trabalhou com músicas de Milton. Mas, para esse espetáculo, foi realizada uma pesquisa mais aprofundada das composições do Bituca, apelido do artista. E novos arranjos foram feitos pelo diretor musical Gilvan de Oliveira. "Eu descobri coisas na obra dele que uma visão menos cuidada não tinha me dado. Ninguém vá esperando que escutará as músicas com as quais já está acostumado", avisa Regina. Feliz da vida em contracenar com os atores e os meninos do coro, Milton, que já fez peças e filmes, diz que até gostaria de atuar mais, mas não tem tempo. "Estou muito atarefado com a música. Não está dando muito pé para outras coisas, não."
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