SÃO PAULO - Quem ligar a TV ou navegar pelas redes sociais atualmente em algum momento vai dar de cara com a rapper curitibana Karol Conka. Ela protagoniza comerciais de maquiagem da Avon e do sabonete íntimo Dermacyd, da Sanofi. Já estrelou publicidades do celular da Alcatel e de produtos da Nestlé. Uma música dela foi trilha sonora para a Caixa Econômica Federal.
As empresas que escolhem a rapper sabem bem o que querem: criar um elo de suas marcas com a atitude autêntica da cantora, que retrata o empoderamento da mulher. “A Karol é a pessoa que mais representa essa nova fase da mulher, de empoderamento. E não é algo forçado. Muitas marcas estão se apropriando do discurso dela, de que a mulher precisa se amar como é”, afirma Gabriela Borges, diretora de atendimento da agência Publicis, responsável pela campanha da Dermacyd.
De acordo com Fábio Mariano, doutor em ciências sociais e sociologia do consumo e professor da ESPM, a rapper representa uma nova tendência da publicidade, em que saem de cena as celebridades e entram os influenciadores.
A diferença, diz Mariano, é que os primeiros são “pasteurizados” e representam visões que não são próprias, enquanto os últimos são formadores de opinião. Ele lembra que a rapper curitibana não é a única a fazer parte desse segundo grupo. A cantora de funk transexual Mc Linn da Quebrada, destaque no São Paulo Fashion Week, é outro exemplo.
Karol Conka, porém, vai além de mera influenciadora. É uma cantora ativista, que já tinha seu discurso em defesa dos negros, da periferia e da mulher antes da fama, avalia Mariano. “As pessoas sabem que a Karol e os ‘influencers’ só se ligam a marcas que têm uma causa.”
Consultoria. Esse “casamento” entre empresas e causas sociais não é restrito ao Brasil e vem acontecendo em todo o mundo, explica Mariano. Isso ocorre porque as marcas querem falar de assuntos que são relevantes para a vida das pessoas. Para conseguir abordar esses tópicos da maneira correta, as companhias não estão apenas contratando influenciadores como o “rosto” de sua marca, estão também trabalhando com consultores e acadêmicos para que o discurso adotado na propaganda realmente reflita a realidade da empresa.
A Avon, que por décadas trabalhou com celebridades como garotas-propaganda – como Flávia Alessandra, Camila Pitanga e até a americana Reese Whiterspoon –, é uma das empresas que estão transformando seu marketing. A companhia de beleza dos EUA, que tem o Brasil como seu principal mercado, foi uma das primeiras a assinar contrato com Karon Conka.
A vice-presidente de marketing da Avon no Brasil, Marise Barroso, também afirma que o discurso da empresa precisa estar alinhado ao que acontece no dia a dia dos negócios. Ela ressalta que a companhia divide os cargos de diretoria igualmente entre os sexos. A executiva diz que Karol foi escolhida como garota-propaganda da marca por ter algo a dizer, e não por ser bonita.
Confiança. Na Sanofi, a decisão de contratar a rapper para o comercial do Dermacyd passou pelo fato de ela simbolizar o “atual momento da mulher brasileira”, diz o diretor de marketing da área de cuidados com a saúde, Vinicius Santos. “Ela passa a mensagem de confiança, atitude e empoderamento, valores que são atuais.”
Segundo Gabriela Borges, da Publicis, após a propaganda do Dermacyd com a curitibana estrear, a página do produto no Facebook ganhou 4 mil fãs em menos de 24 horas – havia seis meses que o número estava estável. “Isso prova o sucesso da Karol atrelado à marca.”
Para a Alcatel, a postura provocadora da cantora foi o chamariz. “Somos o quarto ‘player’ do setor. Temos de desafiar o mercado. A ousadia e a coragem dela combinam conosco”, explica Patricia Vital, diretora de marketing, que destaca ainda a popularidade de Carol nas redes sociais.
O gerente executivo de marca da Nestlé Brasil, Rafael Souza, lembra da capacidade da rapper de falar com o público jovem. “Ela é um fenômeno da atualidade, capaz de traduzir conceitos que gostaríamos de transmitir aos jovens, como a importância de superar obstáculos e o poder que cada um tem de transformar sua história.”
Superbonita. As aparições da rapper Karol Conka na televisão não estão restritas aos comerciais. Desde março, a curitibana de 30 anos comanda o programa de beleza “Superbonita”, do canal de TV a cabo GNT, substituindo Ivete Sangalo. As músicas da rapper, que começou na cena underground paranaense e explodiu no País após se apresentar na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, dão o tom de cada episódio e assuntos como empoderamento feminino e autoestima são tratados. Segundo o GNT, Karol mostra sua “versatilidade” e “despojamento” no programa.