Acordos bilaterais podem atrapalhar Doha, diz OMC

Segundo a Organização Mundial do Comércio, "a moda" deste tipo de acordo pode resultar em um "desvio de recursos das negociações multilaterais"

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Por Agencia Estado
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O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o francês Pascal Lamy, alertou nesta terça-feira a União Européia de que "a moda" dos acordos bilaterais "tem o risco de resultar em um desvio de recursos das negociações multilaterais" que pode prejudicar a retomada da Rodada Doha. "A maioria dos membros (da OMC) não tem condições de montar em dois cavalos ao mesmo tempo", ilustrou Lamy, durante um debate no Parlamento Europeu, em Bruxelas, e depois de se dizer "surpreso" com o fato de a suspensão das conversas sobre Doha, em julho, ter levado muitos países a valorizar possíveis acordos bilaterais como forma de conseguir seus objetivos. O recado foi dirigido à União Européia, que, no início de outubro, anunciou que seguirá uma nova estratégia de comércio internacional, voltada a buscar novos sócios potenciais para acordos bilaterais e a concluir os tratados já em processo de negociação, como o com o Mercosul. Naquela ocasião, o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, insistiu que sua "nova geração de acordos bilaterais" buscará proteger áreas que não são cobertas pela OMC. No Parlamento, Lamy rebateu: "Só a política multilateral pode tratar questões de fundo que preocupam o mundo em desenvolvimento". "Nunca vi acordo bilateral que resolvesse a questão dos subsídios agrícolas, por exemplo", afirmou. "Não sei quais são os argumentos de Peter (Mandelson). Se ele se refere a áreas como investimentos e concorrência, tem razão. Entretanto, esse não é o caso em matéria de serviços e mercado público, que são cobertos pela OMC." Agricultura Lamy, que antes de dirigir a OMC ocupou o posto de Mandelson, também defendeu que os países pobres têm menos capacidade de negociação em uma discussão bilateral, um aspecto que deveria ser considerado pela União Européia "se (o bloco) realmente dá prioridade ao desenvolvimento". Apesar de se mostrar otimista em relação à Rodada Doha, o diretor da OMC foi enfático ao dizer que "não há forma desse acordo ir adiante se não for pela solução da questão agrícola". "As tarifas e subsídios em agricultura são maiores que em setores como o químico ou o automotivo. Por isso, não podemos simplesmente deixar a agricultura para depois e seguir com o resto. Não funciona assim." Com essa perspectiva, disse acreditar que as negociações poderão recomeçar "entre agora e a primavera (outono no Brasil), dependendo do calendário eleitoral americano". Os Estados Unidos têm eleições parlamentares em novembro, e o novo Congresso deverá decidir sobre uma possível reforma da legislação agrícola do país. "Se os negociadores superarem o grande bloqueio em agricultura, o resto das negociações, em serviços e em bens industriais, fluirão com relativa facilidade", garantiu Lamy, antes de alertar, no entanto, que "não são só os americanos que terão que dar novos passos para as negociações evoluírem". Na União Européia, entretanto, Mandelson terá que enfrentar os agricultores locais se estiver disposto a seguir os conselhos de Lamy. Nesta terça-feira, durante a conclusão do Congresso dos Agricultores Europeus, em Estrasburgo, organizações agrárias européias entregaram à comissária do setor, Mariann Fischer-Boel, uma declaração pedindo que a União Européia não ofereça mais abertura nas próximas reuniões da OMC. include $_SERVER["DOCUMENT_ROOT"]."/ext/selos/bbc.inc"; ?>

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