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Adriana Fernandes

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Com apoio do governo, Câmara dá rasteira em Guedes ao 'salvar' categorias de congelamento de salário

Mudanças feitas pelos deputados desfiguram completamente a ideia original do ministro de fazer uma contrapartida de ajuste fiscal ao auxílio emergencial aos Estados

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Por Adriana Fernandes
2 min de leitura

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não foi o único perdedor na votação desta terça-feira, 5, do projeto de auxílio emergencial para Estados e municípios pela Câmara. O ministro da Economia, Paulo Guedes, levou uma rasteira com o apoio do próprio governo. 

A sua proposta de congelamento dos salários dos servidores da União, Estados e municípios foi completamente desfigurada pelos deputados. A Câmara mudou o projeto e abriu uma porteira para salvar do congelamento vários grupos de servidores, a maioria da área de segurança.

Detalhe: a mudança teve a assinatura do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), ao lado do líder do PP, deputado Arthur Lira (PP-AL). Liderança do Centrão, Lira já começou a ser agraciado nesta quarta-feira, 6, com indicações políticas para cargosno governo. 

Ao lado de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes dá entrevista na porta do Palácio da Alvorada. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters - 27/4/2020

Emenda apresentada pelos dois excluiu do congelamento as polícias Federal e Rodoviária Federal, agentes penitenciários, técnicos e peritos criminais, agentes socioeducativos, garis e assistentes sociais. Até policiais legislativos conseguiram ficar de fora do congelamento.

Outro destaque (sugestão de alteração) retirou os professores. Militares das Forças Armadas e da segurança nos Estados já haviam sido excluídos do aperto na votação do Senado.

As exceções incluídas no projeto desfiguram completamente a ideia original do ministro de fazer uma contrapartida de ajuste fiscal ao auxílio emergencial.

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Em entrevista no Palácio do Planalto, na semana passada, Guedes havia feito, inclusive, uma ligação do custo do projeto com a economia prevista nos próximos 18 meses comcongelamento.

Nada disso aconteceu. Pelo contrário, a negociação direta de Guedes com Alcolumbre para incluir a contrapartida não funcionou. E tudo com o aval do Palácio do Planalto.

A pressão das categorias de servidores deu certo, como sempre, mas foi favorecida também pelo erro estratégico do presidente do Senado de puxar a sardinha (no caso, os recursos do auxílio) para o seu Estado, o Amapá. Tabelas mostrando o favorecimento ao Amapá na divisão de recursos, na comparação por habitante, se multiplicaram na Câmara nos últimos dias. Os deputados também mudaram o critério de divisão, o que fez com que o Amapá perdesse recursos. 

Isso acirrou os ânimos para a revanche da Câmara. Alcolumbre prometeu restaurar o texto em nova votação do Senado. 

O racha nas duas Casas, que não é de hoje, subiu de patamar. No governo, Guedes sofre mais um desgaste que se segue ao lançamento do polêmicoplano Pró-Brasil, que prevê o aumento de investimentos públicos em infraestrutura.