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Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

Opinião | Vem aí a ‘nacionalização metálica’: protecionismo em itens necessários para transição energética

Diante desse cenário, será necessária a entrada em produção de mais minas e com muita pressa

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Foto do author Adriano Pires

Os minerais são a parte mais crítica da solução para uma economia de baixo carbono. De acordo com a Benchmark Mineral Intelligence, se o mundo quiser atender à crescente demanda por metais para baterias, por exemplo, serão necessárias 59 novas minas de lítio, 62 novas minas de cobalto e 72 novas minas de níquel até 2035 (sem incluir a reciclagem).

A demanda por elementos de terras raras deve crescer de 400% a 600% nas próximas décadas, e a necessidade de minerais como lítio e grafite, usados em baterias de veículos elétricos, pode aumentar em até 4.000%. Um carro elétrico típico requer seis vezes mais insumos minerais do que um carro convencional, enquanto um parque eólico offshore, 13 vezes mais minerais do que uma usina a gás de tamanho similar.

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A Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) destaca que muitos minerais cruciais para a transição energética estão concentrados em poucos países. Hoje a China produz de 60% a 70% dos elementos de terras raras do mundo. Os EUA produzem pouco mais de 14% e a Austrália, 6%. A República Democrática do Congo e a China foram responsáveis por cerca de 70% e 60% da produção global de cobalto e elementos de terras raras, respectivamente, em 2019. A América Latina responde por 40% da produção global de cobre, liderada pelo Chile, Peru e México. O Chile, com 11 milhões de toneladas em reservas, é o segundo maior produtor mundial atrás da Austrália.

O movimento de “nacionalização metálica” tem gerado estratégias protecionistas. A Bolívia, que possui os maiores depósitos de lítio do mundo, passou a exigir o controle estatal sobre sua extração e processamento em 2008. O México nacionalizou o lítio no ano passado e anunciou que apenas joint ventures com controle majoritário do Estado poderiam explorar o mineral. O Chile anunciou em abril que também exigirá que o Estado controle 51% dos empreendimentos futuros.

Mina de lítio da Sigma Lithium em Minas Gerais Foto: Mário Santos/Sigma Lithium

Grandes importadores, como os EUA e a União Europeia (UE), intensificaram os esforços para aumentar as restrições à exportação e diversificar o fornecimento de materiais críticos. Políticas como a Lei de Redução da Inflação, dos EUA, e a Lei de Matérias-Primas Críticas, da UE, buscam incentivar o desenvolvimento de suprimentos localmente.

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Nessa corrida dos minérios raros, o Brasil possui uma posição relevante. A Vale é uma das maiores produtoras mundiais de níquel, cobre e cobalto, com minas e instalações de processamento no Canadá, Indonésia e Brasil. Hoje a Vale já tem um contrato de longo prazo para fornecer à Tesla níquel para as suas baterias. Além disso, a mineradora também se associou à Ford e à Huayou Cobalt em uma instalação de processamento de níquel de US$ 4,5 bilhões na Indonésia.


Diante desse cenário, será necessária a entrada em produção de mais minas e com muita pressa. No entanto, a aprovação regulatória e ambiental global para novas minas está em seu nível mais baixo em uma década.

Opinião por Adriano Pires

Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

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