O fato de a demanda por processos sustentáveis ter vindo, definitivamente, para ficar não é mais objeto de discussão dentro do agronegócio. Como realça Ingrid Graziano, líder de Produtos de Sustentabilidade da Cargill para América do Sul e produtora rural, a temática ambiental tem de ser vista mais pelo lado das oportunidades do que como uma lista de obrigações a ser cumprida. “É um tema que está sobre a mesa para nos trazer um novo olhar sobre eficiência. Sobre como o produtor, por exemplo, se relaciona com o seu ambiente”, afirmou a representante da Cargill durante o Summit Estadão Agro 2023.
As tendências nacionais, e principalmente internacionais, indicam como cada vez mais o meio ambiente está atrelado aos mercados. O que leva ao passo seguinte. O produtor que não estiver antenado a essa demanda deixará, em um curto prazo de tempo, de ser competitivo. “Os países estão começando a se posicionar nessa agenda, o que faz surgir legislações e políticas públicas voltadas totalmente para o assunto”, afirma Ingrid.
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Como também foi discutido durante o evento presencial sobre agronegócio no auditório do Masp, exemplos como a lei antidesmatamento aprovada pela Comunidade Europeia atingem em cheio o dia a dia dos grandes fazendeiros brasileiros. “Nesse contexto, a questão vai muito além do desmatamento zero. Envolve também o tema das emissões [de gases de efeito estufa], da biodiversidade e de um outro pilar muito importante, representado pela agricultura regenerativa”, explica Ingrid.
A filosofia no campo, hoje, pressupõe uma mudança de pensamento, defende a representante da Cargill. “Esse conceito de produção regenerativa engloba toda a regeneração do meio ambiente. Não se trata de apenas mitigar o impacto negativo oriundo do setor, mas gerar uma visão positiva. A ideia é que a gente consiga construir sistemas complexos, com uma visão transversal da cadeia de produção”, explica Ingrid. O que significa, na prática, estar atento à saúde do solo, à biodiversidade dos polinizadores – e algumas espécies sofrem processos de extinção – e às soluções que podem contribuir para o enfrentamento das mudanças climáticas. “Os sistemas precisam ser cada vez mais resilientes.”
Presentes ao lado do produtor em várias etapas do processo produtivo, os especialistas da Cargill não têm dúvidas sobre a quem cabe o protagonismo. “O nosso entendimento é de que o desafio das mudanças climáticas será enfrentados pelas boas práticas agrícolas. Como olhamos para a agricultura como solução, consideramos os produtores como peças fundamentais na nossa caminhada. Temos que dar um lugar à mesa para eles participarem da transformação da nossa cadeia. É importante, além de traduzir um pouco, apoiar os produtores a entenderem o que é sustentabilidade dentro das operações que eles fazem.”
É uma jornada que envolve várias etapas, segundo os especialistas. Como gosta de dizer Ingrid, é um processo vivo, em constante aprimoramento. Que envolve etapas como a da regularização fundiária, na qual se avalia o quanto uma propriedade está de acordo com as regulamentações, como o Código Florestal, até a maturidade do produtor e do negócio. Ou seja, se a questão econômica da porteira para dentro está rodando de forma adequada. “Como trader, estamos posicionados bem no meio da cadeia produtiva. Faz parte da nossa missão promover conexões dos produtores com o mercado e vice-versa. Temos que pôr cada vez mais os produtores no centro da conversa para que as conexões entre eles e outros atores da cadeia possam fluir” ratifica Ingrid.
Serviços para o produtor
Dentro da linha de pensamento de cravar a sustentabilidade como oportunidades que se abrem, Ingrid lança luz sobre o mundo real para ilustrar seu raciocínio. “No caso da certificação, existem duas vertentes. Ela pode ajudar, por exemplo, a traduzir o que é sustentabilidade. A partir do momento que existe um conjunto de regras, produtor e mercado entendem. E aí surge um caminho para falarmos de bem-estar social dentro da fazenda. O que você está fazendo? Como? É todo um sistema de gestão, envolvendo até a parte econômica, que entra em cena. Além de tudo, isso poder ser usado como uma ferramenta de comunicação para o mercado”, explica Ingrid.
O pacote de serviços e caminhos oferecido pela Cargill aos produtores vai além da análise sobre a regularização das propriedades e das ferramentas para melhoria da produção. Ele engloba também as finanças verdes. “Por meio do Banco Cargill, procuramos dividir o risco do negócio com o produtor, a partir de prazos mais longos, e buscamos conectar tudo isso com o mercado”, afirma a produtora Ingrid Graziano.
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