Aluguel de motos dispara, com juros altos dificultando a compra

Mercado de locação de motocicletas populares, para uso profissional, cresce com entregas de delivery e e-commerce

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Foto do author Cleide Silva
Atualização:

A alta dos juros e a restrição maior dos bancos em liberar crédito estão levando ao fomento do aluguel de motocicletas para uso profissional, negócio que começou a ganhar corpo nos últimos dois anos, com o boom de entregas por delivery e do e-commerce a partir da pandemia de covid.

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A frota disponível para locação ainda é pequena, de cerca de 40 mil veículos, segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), mas o conselheiro gestor da entidade, Paulo Miguel Junior, avalia que o segmento “está crescendo absurdamente” e dobrará de tamanho no curto prazo.

Além dos aplicativos de entrega e logística urbana, Miguel Junior cita a dificuldade na obtenção de financiamento para a compra de motos e os juros elevados para as prestações. “Na locação, além de não precisar desembolsar parcela significativa do valor de compra da moto como entrada, custos com serviços como seguro, manutenção e tributos já vêm incluídos”, afirma Miguel Junior.

O presidente da Abla, Marco Aurélio Nazaré, acrescenta que a economia brasileira favorece o crescimento da locação, de um lado em razão do aumento de serviços de entrega e, de outro, a menor capacidade de compra por parte dos consumidores que desejam um veículos próprio.

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Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo), quase 40% das motos eram adquiridas por meio de financiamento no ano passado, participação que este ano caiu um ponto porcentual.

As empresas de locação normalmente operam com aluguel diário, semanal, mensal e anual. Os planos incluem serviços de manutenção preventiva, como a troca de óleo, seguro contra terceiros, impostos como IPVA e licenciamento e também moto reserva.

Na locação, custos com serviços como seguro, manutenção e tributos já vêm incluídos.”

Paulo Miguel Junior, conselheiro gestor da Abla

O mercado de locação de motocicletas segue o caminho que vem sendo adotado pelo seguimento de caminhões, que nos últimos meses atraiu várias fabricantes para atuarem no ramo, assim como o de automóveis, que tem as locadoras como responsáveis por metade das aquisições mensais de automóveis no País.

Criada há quase três anos, a startup Mottu, dedicada à locação de motos populares para uso profissional, ampliou sua frota neste ano de cerca de 5 mil para 15 mil veículos. Rubens Zanelatto, fundador da empresa, afirma que a intenção da empresa é chegar a 50 mil unidades no fim de 2023.

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Startup Mottu tem frota de 15 mil motocicletas para locação; até o fim de 2023 serão 50 mil Foto: Felipe Rau/Estadão/21/01/2022

A Mottu tem como foco os entregadores de aplicativos e sua frota é formada, em sua maioria, por modelos Honda Pop 110i, uma das mais baratas do mercado. O aluguel pode sair por cerca de R$ 20 a R$ 50 por dia, dependendo dos serviços incluídos.

Sem acesso a crédito

A Loca9motos nasceu poucos meses depois da Mottu e dispõe de 600 motos, todas alugadas no momento, informa Pedro Marzura, sócio fundador da empresa. No próximo ano, serão adquiridas mais 2 mil unidades.

Os clientes principais também são os entregadores de delivery e e-commerce, especialmente aqueles que não têm acesso ao crédito, seja por dificuldades de comprovar renda ou de assumir parcelas que ficaram mais caras com o aumento da taxa de juros. “Também atendemos quem não consegue comprar o veículo porque está com o nome sujo na praça”, afirma Marzura.

A maior parte dos modelos da frota da Loca9motos é do modelo Yamaha de 125 cc (cilindradas). O custo da locação mensal, incluindo todos os serviços como troca de óleo e de pneus, além de seguro, é de R$ 1.040, ou R$ 35 a diária.

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“Muitos entregadores conseguem ganhar isso em menos de meio dia de trabalho; o restante é lucro”, afirma Marzura, para quem a locação representa também maior segurança no trânsito. “Todas as nossas motos são novas e com manutenção em dia, o que pode evitar acidentes.”

Sede da Loca9motos, em São Paulo: aluguel de motos para uso profissional  Foto: Loca9motos/Divulgação

Marzura vê um grande potencial no mercado de locação de motos populares com base no número de motoboys que trabalham com entregas. “Só em São Paulo são cerca de 200 mil que movimentam R$ 4 bilhões por ano.”

A Loca9motos atua na capital paulista e na Grande São Paulo, mas a intenção é expandir para o interior e outros Estados. Já a Mottu opera em dez cidades dos Estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Amazonas. Neste ano, também abriu uma filial internacional, na Cidade do México.

Aluguel de motos premium também cresce

No segmento de motocicletas premium, para uso mais voltado ao lazer, a modalidade de aluguel é mais antiga. A Roxmoto, por exemplo, passou a operar como locadora em 2018 e atua apenas com modelos de alta cilindrada da BMW, da Honda e principalmente da Triumph, marca com a qual tem parceria e única fabricante no País que também tem divisão própria de locação.

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O modelo mais em conta é a CB 500X, da Honda, com diária de R$ 304. Os de maior valor são a Triumph Tiger 1200 Rally Explorer e a Rocket 3R, a partir de R$ 902. Nos últimos três anos, as locações feitas pela empresa aumentaram 125%, chegando a 876 contratos neste ano, até o momento.

“Por serem motos utilizadas prioritariamente para lazer, cada vez mais os usuários percebem que é mais vantajoso alugar do que manter um bem de alto valor parado na garagem, arcando com os custos de manutenção, seguro etc”, afirma Evelyn Lima, sócia e gerente de Marketing e Vendas da Roxmoto.

Motocicletas premium para locação na Roxmotos, segmento que também está em alta  Foto: Roxmotos/Divulgação

Segundo Evelyn, outro perfil que tem aumentado é o de estrangeiros que estão no País a trabalho e resolvem alugar uma moto para passear no fim de semana ou para viagens mais longas pelo Brasil ou outros países da América do Sul.

Até o fim do ano passado, a empresa atuava apenas na capital paulista e em Campinas, mas, neste ano, iniciou o serviço de aluguel também em Belo Horizonte (MG) e Florianópolis (SC), em parceria com a Triumph.

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