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Opinião | Inflação acima do teto é a ‘água no chope’ do PIB forte pelo quarto ano seguido

Crescimento impulsionado pelo consumo das famílias pressiona os preços e leva o Banco Central a puxar o freio de mão dos juros para reduzir o nível de atividade

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Foto do author Alvaro Gribel
Atualização:

BRASÍLIA - O PIB mais forte do País pelo quarto ano consecutivo seria uma notícia excepcional, não fosse por um único detalhe: a inflação acima do teto da meta. Na prática, o que a alta dos preços indica é que o País não vai conseguir sustentar esse nível de crescimento, principalmente puxado pelo consumo das famílias. Com a demanda muito aquecida, a inflação fica pressionada, o que obriga o Banco Central a subir os juros e a frear o nível de atividade.

Depois de crescer 4,8% em 2021, logo após o tombo de 3,7% da pandemia, e com altas de 3% em 2022 e 3,2% em 2023, o crescimento da economia foi de 3,4% em 2024. Números muito bons, mas que vêm acompanhados desse problema da inflação alta. No ano passado, o IPCA ficou em 4,83%, acima da meta de 3%, e acima também do teto de 4,5%.

BC já alertou que a inflação ficará fora da meta nos próximos meses Foto: Dida Sampaio/Estadão

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O Banco Central já alertou que a inflação ficará acima de 4,5% por pelo menos seis meses seguidos, e por isso a Selic está subindo em ritmo acelerado. Subirá para 14,25% ainda neste mês de março, e tudo indica que seguirá em alta na reunião seguinte.

Com esse choque de juros, o próprio Ministério da Fazenda estima desaceleração do PIB este ano, que deve ficar em 2,3%, segundo a projeção oficial. O mercado financeiro, por sua vez, é mais pessimista e projeta alta de 2,01%.

O que os números do IBGE mostram é que o consumo das famílias tem sido o principal motor do crescimento da economia nos últimos anos, como mostra o gráfico abaixo. Com muita gente consumindo ao mesmo tempo, a tendência é de alta dos preços, com o consequente choque de juros.

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Os dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE também indicam um outro ponto de atenção. Se por um lado a taxa de investimento subiu para 17% do PIB, por outro, a taxa de poupança recuou para 14,5% do PIB, o número mais baixo desde 2019.

E esse dado também tem relação com o crescimento puxado pelo consumo, não só das famílias, mas também do governo, porque ambos “queimam” poupança, deixando menos recursos disponíveis para financiar o investimento.

A saída é o País se financiar externamente, e isso ajuda a explicar porque o déficit em conta corrente saltou de 1,12% do PIB em 2023 para 2,55% em 2024. Com o aumento dessa vulnerabilidade externa, o real também tende a se enfraquecer perante o dólar.

O grande ponto de interrogação, olhando para 2025, é se o governo vai mesmo permitir que o PIB desacelere, para que a inflação caia, ou se vai ficar anunciando medidas para estimular o consumo. Já houve a liberação de recursos do FGTS, que irá injetar R$ 12 bilhões na economia, e há projetos em estudo para estimular o crédito, como a mudança no consignado para trabalhadores do setor privado.

Se escolher o caminho do consumo, a consequência será o aumento da fumaça saindo do motor, via inflação mais alta.

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Opinião por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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