ANÁLISE-Mercado acionário fraco pode abater consumidor dos EUA

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Por EMILY KAISER

O mercado acionário pode ser o fator decisivo para a economia norte-americana entrar ou não neste ano em uma recessão puxada pelo consumidor. Grande parte da angústia gerada pela ameaça aos gastos das famílias tem como foco o problemático mercado de moradias. Mas a história sugere que os consumidores poderiam suportar um golpe duro contra suas riquezas, já um ataque duplo poderia ser desastroso. Desse modo, se as ações continuarem recuando os gastos finalmente serão atingidos. Peter Ireland, professor de economia da Faculdade de Boston e ex-pesquisador do Federal Reserve de Richmond, disse que até recentemente os proprietários de moradias afetados pela queda do valor dos seus imóveis podiam encontrar um consolo no mercado de ações, que conseguiu terminar um tumultuoso ano de 2007 com ganhos, ainda que pequenos. Com as bolsas de valores norte-americanas no seu pior início de ano na história agora em 2008 e um crescente número de economistas esperando uma recessão, as famílias podem começar a se preocupar e a tomar medidas que não tomavam há anos --gastar menos do que têm de orçamento. "Os consumidores norte-americanos estão jogando um jogo no qual eles poupam, de uma certa forma, sem poupança, confiando nos ganhos de capital", afirmou Ireland. "A grande pergunta que existe é quanto tempo isso vai durar? Se chegarmos ao ponto em que os consumidores comecem a sentir que o único jeito de economizar é fazer da maneira antiga... isso pode tornar 2008 um ano mais difícil do que esperávamos." Investidores e economistas estão atentos aos gastos do consumidor porque eles são responsáveis por mais de dois terços da atividade econômica dos EUA. Se os gastos das famílias caírem, isso levaria a economia a uma recessão. Ireland afirmou que se o índice Dow Jones se mantiver acima da marca de 12 mil pontos, os consumidores vão resistir, de modo que as turbulências devem ser relativamente breves. Abaixo desse nível, ele prevê queda dos gastos das famílias, conforme os investidores lidarem com recuos de dois dígitos nos seus portfólios de ações. MEMÓRIAS DE MILTON FRIEDMAN Uma má semana em Wall Street não é suficiente para reverter uma tendência de 25 anos de famílias que reduzem as economias para sustentar os gastos. Esse histórico dá ao economista sênior do Deutsche Bank, Torsten Slok, a esperança de que os consumidores vão superar o baque. Apostar contra o consumidor há muito tempo tem sido um equívoco. Apenas nesta década, os gastos sobreviveram à explosão da bolha de tecnologia, ao choque do 11 de setembro de 2001, a ataques terroristas, às sucessivas altas do petróleo até o recente patamar psicológico dos 100 dólares por barril e à crise do mercado de moradias em 2007. Slok afirmou que muitos clientes com quem conversa pensam que uma recessão liderada pelo consumidor é inevitável porque as famílias não podem simplesmente continuar gastando mais do que recebem. No entanto, a teoria econômica diz que eles vão sustentar os gastos até o momento em que continuarem confiantes em seu bem-estar financeiro a longo prazo. "Se os consumidores dos EUA quiserem continuar consumindo apesar desse choque temporário, eles poderiam vender outros ativos além da casa", disse Slok. "A moradia não é a parte mais significativa do orçamento (familiar). Nesse sentido, ainda sou otimista de que não entraremos em uma recessão." A razão para a resistência dos gastos pode ser encontrada em teorias econômicas de até 50 anos atrás, feitas pelo renomado Milton Friedman. Ele descobriu que as pessoas baseiam suas decisões imediatas sobre gastos nas expectativas de lucros futuros, e não nos atuais níveis de receita. Isso significa que os consumidores não param de gastar apenas porque o mercado de ações cai, contanto que percebam que se trata de um movimento de curto prazo e não uma ameaça permanente à sua saúde financeira. Usando a teoria de Friedman, o fato de que os consumidores estão dispostos a ficar com dívidas maiores para sustentar os gastos é um aspecto positivo porque sugere que eles seguem otimistas com o futuro. Essa confiança pode ter sido abalada em dezembro.

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