No momento em que se iniciam os esforços para salvar do fracasso total as negociações sobre o comércio mundial, especialistas afirmam que a primeira coisa a fazer é esclarecer a confusão em torno de um instrumento de proteção a agricultores que acabou por ser determinante na suspensão da rodada mais recente de diálogos. Segundo Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), as negociações que buscavam, em meio à Rodada de Doha (atualmente no seu sétimo ano), fixar novas regras para o comércio de produtos agrícolas e industrializados haviam conseguido resolver 90 por cento de sua agenda. Para muitos integrantes da OMC, seria frustrante jogar tudo isso fora por causa de uma desavença em torno de um detalhe técnico, ainda assim importante para ajudar os agricultores pobres a protegerem-se da eventual invasão de produtos importados. "Estava quase tudo pronto para uma conclusão quando houve esse impasse entre os EUA e a Índia", afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira. "Se não retomarmos as negociações e se não chegarmos a um acordo nos próximos meses, precisaremos de mais quatro a cinco anos para fazer isso, o que significaria um grande prejuízo para todos os envolvidos", afirmou Lula em Pequim, para onde viajou a fim de acompanhar a abertura dos Jogos Olímpicos. Warren Maruyama, uma importante autoridade da área de comércio dos EUA, disse na quarta-feira que os desentendimentos entre os EUA e os grandes países emergentes como a Índia e a China eram complexos demais para serem resolvidos rapidamente e que não havia por que reunir novamente os ministros de diferentes países enquanto questões como a do mecanismo de proteção não forem resolvidas. No entanto, diplomatas do setor comercial apontam para vários fatores que sugerem a retomada, em breve, da Rodada de Doha, mesmo que um acordo final tenha de esperar até depois das eleições presidenciais nos EUA: -- A chefe da área de comércio dos EUA, Susan Schwab, sublinhou, depois do colapso das negociações, que a oferta norte-americana continuava sobre a mesa. -- Os países-membros da OMC evitaram trocar acusações, mantendo a atmosfera diplomática desimpedida para a realização da próxima manobra. -- A Índia, que lutou acirradamente em defesa de mais salvaguardas para seus agricultores, precisa de um acordo na Rodada de Doha a fim de que essa medida comece a vigorar. Autoridades do setor comercial prevêem que os Jogos Olímpicos servirão como veículo para alguns contatos diplomáticos. Estão em Pequim, além de Lula, vários outros líderes, entre os quais o presidente dos EUA, George W. Bush. E Lamy pode reavaliar as posturas norte-americana e indiana ao visitar Nova Délhi, na próxima semana, e Washington, na semana seguinte.
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