Campos Neto: Mesmo com arcabouço, gastos no Brasil devem crescer acima da média dos emergentes

Para presidente do BC, País precisa discutir a estrutura do gasto público, já que as últimas reduções que ocorreram foram conjunturais

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Foto do author Matheus Piovesana
Foto do author Eduardo Laguna
Atualização:

São Paulo - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira, 22, que, mesmo com as regras previstas no novo arcabouço fiscal, que ainda precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados, os gastos no Brasil devem crescer acima da média dos países emergentes. De acordo com ele, o País precisa discutir a estrutura do gasto público, e reduções feitas nos últimos governos foram conjunturais, como o congelamento dos reajustes salariais do funcionalismo público.

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“No Brasil, se gastou em termos reais muito mais do que no mundo emergente (nos últimos anos) e mais do que no mundo desenvolvido”, disse, durante participação em evento do Santander, realizado em São Paulo. Ele disse que, ainda assim, é importante o País ter um arcabouço fiscal com credibilidade.

Na apresentação feita por Campos Neto, os dados apontam um crescimento real de 7,5% na despesa do governo geral no Brasil neste ano, ante uma média de 1% na América Latina. Para o ano que vem, as projeções são de queda de 1% no Brasil e de 2,7% no continente; em 2024, apontam para alta de 3,3% no Brasil, e queda de 0,9% na América Latina.

Para Campos Neto, tendência de crescimento de longo prazo do Brasil é preocupante Foto: Wilton Junior/Estadão

“Isso significa que nós temos um trabalho para fazer em termos de gastos, e que não é um trabalho fácil, não é uma coisa desse governo nem de outro governo, é uma coisa estrutural brasileira”, disse. “Nós tivemos alguns momentos onde tentaram cortar gastos, mas em grande parte foi conjuntural, não foi estrutural.”

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O presidente do BC disse também que, apesar da melhora das expectativas em relação ao desempenho da economia neste ano, a tendência ao crescimento de longo prazo é mais preocupante.

Ele apontou a baixa taxa de investimento e o envelhecimento da população, ao mesmo tempo em que a produtividade tem caído ao longo do tempo, entre os fatores que levaram o mercado a reduzir de 2% para 1,8% a estimativa ao crescimento potencial do País.

“No médio prazo, temos de entender por que a produtividade é menor apesar das reformas feitas nos últimos anos”, disse.

Ao fazer comentários sobre a atividade mais recente, ele salientou a resiliência do setor de serviços ao aperto monetário e reafirmou a intenção do BC de realizar um pouso suave, o que significa trazer a inflação para baixo com o menor custo possível no emprego e no crescimento econômico.

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Incertezas fiscais

Campos Neto também falou, em sua apresentação, das incertezas fiscais no País, ao comentar o mercado de câmbio. “Tem um pouco de prêmio (de risco) da incerteza fiscal, que parece que aumentou um pouquinho nas últimas duas ou três semanas”, disse Campos Neto, referindo-se à desvalorização do real frente ao dólar no último mês. Ele considerou, porém, que o movimento reflete em maior parte fatores externos.

Durante o evento, o presidente do BC lembrou de movimentos cambiais bastante diferentes nos últimos anos. Houve momentos, pontuou, nos quais o real se depreciou a despeito da redução do risco, como no período de “overhedge”, que elevou as compras de dólares. Posteriormente, a desvalorização cambial esteve associada à piora na percepção de risco fiscal.

Agora, disse Campos Neto, o câmbio está sendo guiado pelo aumento do diferencial com os juros americanos, já que há bons títulos privados nos Estados Unidos pagando 7% ao ano, atraindo assim investidores, em paralelo à desaceleração da economia chinesa, a qual o Brasil tem alta exposição. Conforme o presidente do BC, ao mesmo tempo em que exporta desinflação, a perda de tração da China gera questionamentos sobre o crescimento do Brasil.

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