BRASÍLIA - O Comitê de Política Monetária (Copom) indicou, na ata da última reunião, realizada semana passada, que a alta de 1 ponto porcentual (pp) na Selic em março segue apropriada. Isso elevaria a taxa de juros dos atuais 13,25% para 14,25% ao ano. O indicativo para a próxima reunião é a última sinalização feita pelo colegiado, que optou por deixar em aberto as decisões da política monetária a partir do encontro do mês de maio.
Essa decisão é justificada pela análise de cenário. “O Comitê avaliou que os determinantes de prazo mais curto, como a taxa de câmbio e a inflação corrente, e os determinantes de médio prazo, como o hiato do produto (diferença entre o crescimento realizado e o potencial) e as expectativas de inflação, seguem exigindo uma política monetária mais contracionista”, afirmou o texto, acrescentando que esses indicadores também foram determinantes para a elevação de 1 pp decidida na última semana.
“Para além da próxima reunião, a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, disse o colegiado.
O Copom repetiu que o tamanho total do ciclo de aumento da taxa Selic será ditado pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta”. Essa sinalização já constava no comunicado da última quarta-feira, 29, quando o Banco Central (BC) aumentou os juros em 1 ponto porcentual, de 12,25% para 13,25% ao ano.

O Copom também manteve as projeções de inflação que já haviam sido divulgadas no texto da última quarta-feira. Ele espera que o IPCA atinja 4,0% no acumulado de quatro trimestres até o terceiro trimestre de 2026, horizonte relevante da política monetária. A estimativa está acima do centro da meta, de 3%, e considera elevação de 3,8% para os preços livres e de 4,6% para os administrados.
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O BC espera que o IPCA encerre 2025 em 5,2%, acima do teto da meta, de 4,5%. As estimativas consideram altas de 5,2% nos preços livres e de 5,2% nos administrados este ano.
Todas as projeções do BC partem do cenário de referência, com trajetória de juros extraída do relatório Focus e bandeira verde de energia elétrica em dezembro de 2024 e 2025. A taxa de câmbio começa em R$ 6,0 e evolui conforme a paridade do poder de compra (PPC). Os preços do petróleo seguem aproximadamente a curva futura por seis meses e, depois, sobem 2% ao ano.
Crédito
Segundo o Copom, o mercado de crédito se manteve pujante, principalmente por causa do dinamismo do mercado de trabalho e da atividade econômica. A avaliação mostra que, considerando o cenário de aperto de condições financeiras e elevação de prêmio de risco, o crédito bancário tem apresentado alguma inflexão no período mais recente, especialmente nas linhas de baixo risco para pessoas físicas.
“Por outro lado, o mercado de títulos privados segue com crescimento de volume acima do esperado e compressão de spreads. Antecipa-se então um cenário multifacetado, marcado por elevado comprometimento de renda das famílias com o serviço da dívida, concomitante a um dinamismo no mercado de títulos privados”, diz o documento.
Harmonia entre política fiscal e monetária
O Comitê afirma que é evidente a necessidade de harmonia entre as políticas fiscal e monetária, reforçando que a política econômica deve ser composta de ações “previsíveis, críveis e anticíclicas”.
“No período recente, a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida seguiu impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, alertou o colegiado.
O Comitê observou que os debates voltaram a ressaltar que a manutenção de canais de política monetária desobstruídos, sem elementos mitigadores para sua ação, contribui para uma condução mais efetiva e mais eficiente.
PIB
O Copom afirmou ainda que não vê sinais de desaceleração abrupta da atividade doméstica. O colegiado havia mencionado um eventual arrefecimento mais forte da economia como risco para baixo à inflação no seu comunicado da última quarta-feira, 29.
“O Comitê apontou, como risco em um ambiente de taxas contracionistas e de piora das condições financeiras, a possibilidade de uma desaceleração doméstica mais forte do que a esperada, que poderia gerar impactos desinflacionários ao longo do tempo. Por outro lado, foi reforçado, em tal debate, que o cenário-base já contempla uma desaceleração e que não há evidência, mesmo incipiente, de desaceleração abrupta”, disse a ata.
O Copom destacou que uma desaceleração da economia já faz parte do seu cenário básico, e ponderou que dados mais recentes apontam para a possibilidade de moderação no crescimento da economia. No entanto, lembrou que é difícil tirar conclusões de números de alta frequência.