BRASÍLIA – A cúpula do governo federal está tentando evitar a sinalização de novas despesas enquanto discute formas de reduzir os preços dos alimentos. Há uma avaliação de que o aumento nos valores desses produtos no mercado interno se deve à alta do dólar, aos juros e ao clima. A situação do dólar e dos juros pode piorar caso o mercado financeiro detecte sinais de aumento de despesas do Executivo, levando a novas altas nos alimentos. A moeda americana começou 2024 sendo negociada a R$ 4,91, passou de R$ 6 no final daquele ano e terminou a quinta-feira, 23, cotado a R$ 5,93.
Um exemplo da preocupação da cúpula do governo com as expectativas do mercado financeiro foi dado também na quinta. Reportagens sobre uma proposta de R$ 1,2 bilhão gestada na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para criar uma rede de “abastecimento popular” em regiões periféricas do País foram publicadas. Pouco mais tarde, no mesmo dia, integrantes da Casa Civil buscaram jornalistas para dizer que não havia nada disso em discussão.
Além disso, o chefe da pasta, Rui Costa, falou na quarta-feira, 22, em “intervenções” nos preços dos alimentos – em seguida, houve um movimento para tranquilizar o mercado dizendo que a expressão usada era imprecisa e que não haveria intervenção em preços.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá uma reunião sobre a alta dos alimentos na manhã desta sexta-feira, 24, no Palácio do Planalto, com os ministros de várias pastas, como Casa Civil, Fazenda, Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Gestão.
Houve uma reunião preparatória na quinta-feira, 23, sem Lula. Participaram Rui Costa, Paulo Teixeira, Carlos Fávaro e Guilherme Mello. É pouco provável que algo seja anunciado depois da conversa marcada para esta sexta-feira. Os representantes do Ministério da Gestão (MGI) e do Ministério da Indústria e Comércio (MDIC), por exemplo, estão entrando só agora nas discussões e precisarão se inteirar dos assuntos antes de fazer quaisquer propostas.
A expectativa é que, na reunião, o MDIC seja instado a abrir conversas com a indústria alimentícia para colher sugestões relacionadas ao preço dos alimentos. A participação do MGI na próxima conversa era, até esta reportagem ser finalizada na noite de quinta, uma incógnita para as fontes ouvidas pelo Broadcast Político. A pasta tem influência sobre atividades como compras governamentais, mas esse tipo de medida custa um dinheiro que a cúpula do governo não parece disposta a gastar no momento.
Quando Lula encerrar as discussões e decidir o que fazer, provavelmente não haverá um anúncio grandioso. Integrantes da cúpula do Executivo dizem que não há uma solução mágica para o problema. Subsídios, por exemplo, teriam custo muito alto e estão fora do radar. A rejeição a esse tipo de saída partiu da equipe de Haddad, mas também tem apoio dentro do Planalto.
A hipótese mais madura até o momento seria a portabilidade do vale alimentação/refeição, mencionada publicamente por Fernando Haddad. Uma medida nesse sentido poderia reduzir as taxas dos vales para os trabalhadores e não aumentaria as despesas do Executivo federal. Haddad mencionou porcentuais de 1,5% a 3%, mas não deixou claro se a referência era a uma eventual diminuição de preço ou às taxas de intermediação. Seria um alívio modesto e não beneficiaria quem está no mercado de trabalho informal. A medida precisaria de conversas com o Banco Central antes de avançar.
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Os alimentos ficaram 8,23% mais caros em 2024, de acordo com o IBGE. O assunto se tornou o tema mais sensível para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que o governo recuou do ato que serviu de base para opositores espalharem o boato de que o Pix seria taxado. O movimento, concretizado na última quarta-feira, 15, conteve desgastes que o tema poderia causar no futuro, mas não desfez o estrago de relações públicas consumado nos dias anteriores.