O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse ontem que os incentivos ao financiamento privado de longo prazo planejados pelo governo modificarão a composição dos desembolsos do banco em 2011, interrompendo o crescimento iniciado em 2008. No entanto, ele indicou que, após alta de 125% entre 2007 e 2010, a intenção é manter o banco no patamar dos R$ 146 bilhões que devem ser liberados este ano. A mudança, explicou, seria um foco maior do BNDES nos projetos de infraestrutura, que demandam prazos mais longos, e de inovação, que têm risco mais alto. Para ele, boa parte do financiamento aos investimentos da indústria começará a ser absorvida pelo crédito privado de longo prazo, que o governo promete incentivar com medidas a serem anunciadas ainda este mês. "Estamos finalizando um conjunto de entendimentos com o Ministério da Fazenda para calibrar espaços onde o setor privado poderá ampliar a sua presença e o BNDES encolher um pouco. Na margem, o bolo do investimento está crescendo e o financiamento tem que ser absorvido por outras fontes privadas, de modo que a gente possa, mais ou menos, estabilizar o BNDES", disse ele, após participar do seminário "Diálogos capitais", da revista Carta Capital, no Rio."Vamos tentar também criar instrumentos via mercado de capitais para financiar a infraestrutura, mas não parece realista que, no curto prazo, o financiamento (privado) muito longo possa chegar à infraestrutura."Os desembolsos do BNDES somaram R$ 140,9 bilhões entre janeiro e outubro. Desse total, 50% foram para a indústria e 29% para a infraestrutura. Parte da redução da participação da indústria nos financiamentos do banco poderia vir do fim do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que subsidia o crédito para a aquisição de bens de capital, previsto para março. Coutinho indicou que o governo ainda não bateu o martelo sobre o fim do programa, criado para combater a queda do investimento na crise, em julho de 2009, e que já foi prorrogado três vezes. "É um programa muito valioso, então deveríamos ainda pensar", disse. Convidado para uma palestra sobre a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 e os gargalos de infraestrutura, Coutinho afirmou que os dois eventos são apenas "duas cerejas no bolo" de investimentos que o País precisa para sustentar um crescimento anual superior a 5% nos próximos cinco anos. Segundo levantamento do BNDES, o investimento em infraestrutura crescerá 10% ao ano entre 2011 e 2014, somando R$ 378 bilhões no período. Acrescentando os investimentos em perspectiva em edificações e na indústria, sobretudo na de petróleo, o total chega a R$ 1,59 trilhão. Coutinho afirmou que o País pode aproveitar "com moderação" o momento de alta liquidez mundial para se financiar com capital estrangeiro, mas também precisa aumentar a sua poupança interna. PRESTE ATENÇÃO1.Áreas. Segundo o BNDES, a perspectiva de investimentos na economia entre 2011 e 2014 soma R$ 1,59 trilhão, sendo R$ 611 bilhões na indústria, R$ 378 bilhões em infraestrutura e R$ 607 bilhões) em edificações.2.Energia. No setor de infraestrutura, o principal vetor é a expansão da geração de energia elétrica (investimentos de R$ 139 bilhões até 2014).3.Trem. Os investimentos em ferrovias e portos crescerão mais de 25% ao ano até 2014.