O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, confirmou que o banco está recomendando à Embraer que recorra a outros agentes financiadores, como adiantou o jornal O Estado de S. Paulo há duas semanas. Segundo ele, a redução da exposição do banco é importante para haja folga de recursos para linhas de exportação de outros produtos. "A Embraer tem que buscar outras fontes de financiamento. Continuaremos solidários e soldados com a Embraer, mas estamos pedindo que a empresa procure diversificar mais suas fontes de financiamento", afirmou Lessa. Ele ressaltou, contudo, que o enfoque dado às operações da fabricante de aviões não sofrerá nenhuma alteração brusca, lembrando que a companhia "é pesadamente apoiada pelo BNDES há sete anos" e que é manter essa atuação no mercado internacional. No ano passado, segundo os últimos dados do banco, dos US$ 4 bilhões destinados à exportação, US$ 1,8 bilhão foram para operações com aviões da Embraer. "Não podemos cortar relações. O que estamos solicitando é que exista naturalmente uma redução relativa, mas que não faça nenhum dano à empresa", comentou, argumentando que o BNDES "não é o único financiador no mundo de aviões". Lessa lembrou que a General Electric fechou acordo para financiamento de um lote importante com a empresa brasileira. "Isto é importante para nós, porque reduz o esforço do BNDES", afirmou Lessa. Durante sua palestra no 15º Forum Nacional, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, o presidente do BNDES abordou por diversas vezes o tema. "A Embraer representa um esforço colossal com o qual estamos e continuaremos comprometidos. É um casamento indissolúvel, mesmo que haja algumas rusgas", afirmou. Varig/TAM Lessa não confirmou a informação de que o banco teria dado aval para o financiamento inicial de R$ 120 milhões para a fusão Varig. Ao contrário, ele afirmou que serão rigorosamente seguidas todas as normas bancárias de praxe no caso de um eventual apoio à fusão Varig-TAM. "O BNDES nunca se comportará nesta gestão quebrando regras", falou. Ele reiterou que ainda não recebeu nenhuma proposta concreta das duas empresas sobre a fusão e negou que esteja havendo divergência entre ele e o ministro da Defesa, José Viegas, sobre a forma de tratar do assunto. "Eu e o ministro Viegas temos linha aberta, falamos quase todo o dia, temos um excelente entendimento", disse, alegando que pode estar havendo interpretação diferente das declarações de ambos. "Às vezes é uma quebradinha de inflexão. O ministro diz exatamente a mesma coisa que eu digo", afirmou. Lessa lembrou que a aplicação dos recursos do BNDES é submetida a regras controladas pelo Banco Central e por auditorias interna e externa. Caminhão O BNDES pretende criar um programa de financiamento subsidiado para caminhões, para melhorar o escoamento da produção agrícola. Lessa citou o programa de financiamento para Modernização de Equipamentos e Máquinas Agrícolas (Moderfrota) como um exemplo para o sistema que será utilizado para os caminhões, e fez um elogio transverso ao programa, implantado pelo governo Fernando Henrique. "O Moderfrota foi um pecado venial cometido pelo governo FHC em relação ao ideário neoliberal e tornou possível a explosão na produção de grãos nos últimos dois anos e meio. Passamos a ganhar vantagem comparativa em relação à máquinas e equipamentos", reconheceu Lessa lembrando que este sucesso porém criou um problema de curto prazo, já que faltam caminhões para o escoamento da safra, e os que existem estão com idade média de 17 anos. "O BNDES não pode escapar de criar um Modercaminhão, com condições subsidiadas de crédito", afirmou, lembrando ainda que isso servirá de incentivo ao setor automobilístico, que está com 40% de sua capacidade ociosa. "É um sonho meu, da Anfavea e dos proprietários de caminhão". declarou.
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