BRASÍLIA - Pouco antes da divulgação do resultado da Petrobras, na noite desta quinta-feira, 5, o presidente Jair Bolsonaro fez apelos, aos gritos, para que a empresa não volte a aumentar o preço dos combustíveis no Brasil. Durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, o presidente afirmou que os lucros registrados recentemente pela empresa são "um estupro", beneficiam estrangeiros e quem paga a conta é a população brasileira. Contudo, ele descartou interferir na companhia.
"Se tiver mais um aumento (nos preços dos combustíveis), pode quebrar o Brasil. E o pessoal da Petrobras não entende, ou não quer entender. A gente sabe que têm leis. Mas a gente apela para a Petrobras que não aumente os preços", disse Bolsonaro, que também chamou o lucro da estatal de "abusivo" e o classificou como "crime". "Se aumentar de novo o preço dos combustíveis, o nome da Petrobras vai para a lama", acrescentou.
"Sei que (a Petrobras) tem acionistas. Mas quem são os acionistas? Fundos de pensões dos Estados Unidos. Nós estamos bancando pensões gordas nos Estados Unidos. Petrobras, estamos em guerra. Petrobras, não aumente mais o preço dos combustíveis. O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo. Vocês não podem mais aumentar mais os preços dos combustíveis!", seguiu o presidente, na live.
Na verdade, como principal acionista da Petrobras, o governo federal é o que receba a maior fatia de dividendos da petroleira. Com o lucro recorde em 2021 de R$ 106,668 bilhões, a estatal pagou R$ 37,3 bilhões em dividendos para a União, que vão direto para o caixa do Tesouro e podem ser usados da forma como o governo quiser.
Bolsonaro fez as críticas pouco antes da divulgação pela Petrobras do resultado do primeiro trimestre deste ano, quando a empresa teve lucro de R$ 44,561 bilhões. Esse valor é 3.718% maior que o registrado no mesmo período do ano passado. Minutos antes, ele havia dito que "fontes dizem que o lucro da Petrobras para esse trimestre poderá chegar a R$ 40 bilhões" – o número constava também de previsões de bancos sobre o resultado.
Segundo Bolsonaro, a estatal pode “quebrar o Brasil”, mergulhar o País em crise econômica e “causar convulsão nacional” se subir o preço dos combustíveis. “É apelo, Petrobras, não quebre o Brasil”. “Lucro da Petrobras é maior com a crise, não consigo entender”, disse o chefe do Executivo. “Eu não posso entender a Petrobras faturar horrores [na crise]”, acrescentou.
O presidente comparou a estatal a outras petrolíferas para pressionar uma redução do lucro da brasileira. “Shell, Total, elas têm lucro na casa de 10 a 15%. A Petrobras, de 30%”. Para ele, a Petrobras “tem gula enorme” e “tem gordura” para “adotar responsabilidade” e não subir o preço dos combustíveis no País. “Vocês têm lucro de 30%. Dá para resolver isso aí”, apelou o presidente ao presidente da empresa, José Mauro Ferreira Coelho, aos diretores da empresa e até ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. “Quando é empresa pública ou sociedade de economia mista, deve ter função social”.
Apesar dos ataques à Petrobras, Bolsonaro disse que a empresa precisa ser lucrativa e descartou que a cúpula aja de forma não republicana - embora tenha criticado a bonificação de diretores da estatal.
O presidente ainda confirmou que o presidente da Petrobras vai com ele amanhã na viagem oficial à Guiana para aproximar o Brasil do país vizinho, que descobriu reservas de petróleo.
“Guiana e Suriname descobriram reservas de gás e petróleo equivalentes a 40% das atuais reservas brasileiras. Estamos indo para lá com a Petrobras para ela participar desse mercado. Teoricamente, a Petrobras poderá aumentar sua área de atuação no Brasil em 40%”, declarou Bolsonaro sobre a viagem.
Após uma sequência de críticas, Bolsonaro reconheceu que se excedeu e pediu desculpas à Petrobras. Ele reforçou, também, que não vai interferir na companhia. "Eu não mando na Petrobras. Tem uma pesquisa aí dizendo que 70% são favoráveis a que governo interfira na Petrobras. Isso é irresponsabilidade", disse.
Sinais trocados
As renovadas críticas à estatal vieram um dia depois de o novo presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, afirmar em entrevista ao Estadão que “Bolsonaro entendeu muito bem a questão do preço de mercado” dos combustíveis, sujeitos à variação do dólar e do preço internacional do petróleo. A Petrobras já está em seu terceiro presidente desde o início do governo Bolsonaro, em 2019. “É muito claro para a Petrobras e para o governo que, como uma empresa de capital aberto, listada em Bolsa, e por conta de toda legislação existente interna e externamente, a Petrobras deve praticar preços de mercado”, disse Coelho na entrevista.