A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acumula no mês de outubro, até sexta-feira, uma alta de 6,54%, mas, no acumulado do ano, a perda ainda é significativa - queda de 25,74%. Analistas acreditam que o momento ainda é de muitas incertezas, principalmente no cenário internacional, com os conflitos militares na Ásia Central e a indefinição sobre os rumos para a situação argentina. A guerra declarada pelos Estados Unidos aos grupos terroristas, logo após os atentados em 11 de setembro, pode alastrar-se por outras regiões, o que é considerado um dos principais riscos deste cenário. Além disso, o aumento de casos de antraz, que ultrapassaram as fronteiras norte-americanas, deixam os norte-americanos inseguros, pois envolvem uma outra forma de ataque terrorista, a chamada guerra biológica, em que o controle dos limites destes conflitos pode ficar muito mais difícil. Com isso, a confiança do consumidor norte-americana, muito abalada após os ataques terroristas, pode ficar em baixa durante muito tempo. Disso decorre consumo em baixa e depreciação do preço das ações nas bolsas de Nova York, as quais têm forte influência sobre o mercado acionário brasileiro. O governo dos Estados Unidos vem tomando muitas providências para reverter este quadro o mais breve possível, como redução forte nas taxas de juros. O problema é que a economia norte-americana já vinha em desaceleração antes dos ataques terroristas e, depois deles, a recuperação da atividade econômica ficou muito mais difícil. Argentina também influencia Bovespa O cenário argentino é preocupante, segundo analistas. O país precisa retomar o crescimento econômico e equilibrar suas contas, mas esta tem sido uma meta cada vez mais distante para o governo Fernando De la Rúa, que poderá anunciar ainda hoje um acordo com fundos de pensão e províncias. O objetivo destas negociação é, principalmente, reduzir os gastos do governo. Para o Brasil, a situação argentina tem influência muito forte, já que os dois países têm relações comerciais muito estreitas. O investidores tendem a retirar dinheiro do mercado brasileiro com aumento do risco e, para a Bovespa, isso é prejudicial para a retomada do preço das ações. Perspectivas Analistas acreditam que este cenário já está embutido nos valores do mercado acionário brasileiro. Em entrevista à repórter Rosângela Santiago, a diretora de gestão da Fator Dória Atherino, Roseli Machado, afirmou que os preços das ações já embutiram um excesso de notícias negativas, que só se justificariam se a guerra se alastrasse a outros países ou houvesse novos ataques terroristas contra os Estados Unidos. A especialista destacou boas oportunidades de investimento entre ações de empresas de farmácia, de alimentos, e do setor de energia. Segundo ela, as empresas farmacêuticas serão favorecidas, pois ampliaram suas perspectivas de lucro, em função do risco de guerra bacteriológica. Já o setor de alimentos será beneficiado pelo aumento do consumo mundial, com redução da demanda interna por produtos norte-americanos e conseqüente expansão em outros países. Em relação ao setor de energia, Roseli Machado justifica sua boa perspectiva em função da chegada das chuvas potenciais e da expectativa de solução para o problema do anexo V - distorção entre preço de geração e distribuição - e de aumento nos investimentos estruturais. Vale lembrar que apenas quem não tem uma data definida para resgate deve investir em ações. As oscilações neste mercado ainda devem continuar fortes e o investidor pode perder dinheiro, caso precise resgatar seus recursos em um momento de baixa das ações.
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