Brasil considera ‘injustificável e equivocada’ a imposição de barreiras por Trump e avaliará medidas

Comunicado dos ministérios de Relações Exteriores (MRE) e de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) cita a possibilidade de recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC)

PUBLICIDADE

Foto do author Amanda Pupo
Atualização:

BRASÍLIA - Na primeira nota oficial sobre a tarifa de 25% para o aço e o alumínio importados pelos Estados Unidos, que passou a valer nesta quarta-feira, 12, o governo brasileiro afirmou que buscará, em coordenação com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais. Em comunicado conjunto do Ministério de Relações Exteriores (MRE) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o governo de Luiz Inácio Lula da Silva disse que avaliará todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior, com vistas a enfrentar os “efeitos nocivos” das medidas norte-americanas, bem como defender os “legítimos interesses nacionais”, inclusive na Organização Mundial do Comércio (OMC).

PUBLICIDADE

Essas análises serão feitas em reuniões já previstas para as próximas semanas, informou o governo brasileiro, que lamentou a imposição tarifária dos norte-americanos e chamou atenção para o impacto “significativo” que a medida terá sobre exportações brasileiras de aço e alumínio para os EUA, que, em 2024, foram da ordem de US$ 3,2 bilhões.

Para o Itamaraty e a pasta comandada pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, a decisão da gestão de Donald Trump é injustificável e equivocada, principalmente pelo histórico de cooperação e integração econômica entre os dois países.

“Em defesa das empresas e dos trabalhadores brasileiros e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo brasileiro considera injustificável e equivocada a imposição de barreiras unilaterais que afetam o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos (...) Segundo os dados do governo estadunidense, os EUA mantêm um superávit comercial de longa data com o Brasil, que foi, em 2024, da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens”, destacaram os ministérios, que comandam as conversas bilaterais com representantes dos Estados Unidos sobre o tema.

Publicidade

O Brasil é um dos mais atingidos pela tarifa sobre o aço importado pelos EUA Foto: Divulgação/ArcelorMittal

O governo brasileiro também lembrou que, no caso do aço, as indústrias do Brasil e dos Estados Unidos mantêm, há décadas, relação de complementaridade “mutuamente benéfica”, já que o País é o terceiro maior importador de carvão siderúrgico dos EUA (US$ 1,2 bilhão) e o maior exportador de aço semiacabado para os americanos (US$ 2,2 bilhões, 60% do total das importações dos EUA). O insumo é essencial para a própria indústria siderúrgica norte-americana, aponta a nota.

“À luz do impacto efetivo das medidas sobre as exportações brasileiras, o governo do Brasil buscará, em coordenação com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos”, declararam o Mdic e o MRE.

Mais cedo, Alckmin já havia feito uma declaração na mesma linha, ao lamentar a decisão dos EUA e colocar a continuidade do diálogo como a primeira disposição do governo brasileiro. O vice, por sua vez, também não descartou o acionamento da OMC contra a taxação, ao ser perguntado sobre este eventual movimento do Brasil.

“Essa é uma possibilidade. Nós defendemos multilateralismo, complementação econômica, e a OMC existe para isso, estabelecer regras gerais que devem ser para todos”, afirmou.

Publicidade

Leia a íntegra da nota do governo brasileiro

NOTA À IMPRENSA Nº 115 - Medidas relativas às exportações de aço e alumínio para os Estados Unidos - Nota Conjunta MRE/MDIC

O governo brasileiro lamenta a decisão tomada pelo governo norte-americano no dia de hoje, 12 de março, de elevar para 25% as tarifas sobre importações de aço e de alumínio dos EUA provenientes de todos os países e de cancelar todos os arranjos vigentes relativos a quotas de importação desses produtos. Tais medidas terão impacto significativo sobre as exportações brasileiras de aço e alumínio para os EUA, que, em 2024, foram da ordem de US$ 3,2 bilhões.

Em defesa das empresas e dos trabalhadores brasileiros e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo brasileiro considera injustificável e equivocada a imposição de barreiras unilaterais que afetam o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, principalmente pelo histórico de cooperação e integração econômica entre os dois países. Segundo os dados do governo estadunidense, os EUA mantêm um superávit comercial de longa data com o Brasil, que foi, em 2024, da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens.

PUBLICIDADE

No caso do aço, as indústrias do Brasil e dos Estados Unidos mantêm, há décadas, relação de complementaridade mutuamente benéfica. O Brasil é o terceiro maior importador de carvão siderúrgico dos EUA (US$ 1,2 bilhão) e o maior exportador de aço semi-acabado para aquele país (US$ 2,2 bilhões, 60% do total das importações dos EUA), insumo essencial para a própria indústria siderúrgica norte-americana.

À luz do impacto efetivo das medidas sobre as exportações brasileiras, o governo do Brasil buscará, em coordenação com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos. Em reuniões já previstas para as próximas semanas, avaliará todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior, com vistas a contrarrestar os efeitos nocivos das medidas norte-americanas, bem como defender os legítimos interesses nacionais, inclusive junto à Organização Mundial do Comércio.