BRASÍLIA - Ainda que a sanção imposta pelo governo Donald Trump afete a todos os países que exportam aço e alumínio para os Estados Unidos, o Brasil deve iniciar uma negociação individual com o governo americano.
A sinalização ocorre nas primeiras reuniões de auxiliares de Lula com representantes do setor privado para reunir informações sobre como atuar contra a tarifa de 25% imposta sobre o aço e o alumínio que é vendido aos Estados Unidos. O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço ao mercado americano, atrás do Canadá.
Em 2018, quando Trump levantou pela primeira vez restrições às compras de aço, o Brasil negociou individualmente com os americanos. Coreia do Sul, México, Argentina e Canadá seguiram o mesmo caminho e obtiveram, cada um, cláusulas específicas que os excluíram da sobretaxa. Na ocasião, o Brasil negociou cotas de quantidade para a venda de aço semiacabado e elaborado aos Estados Unidos que vigoraram até agora.
Desta vez, o governo Lula dá sinais de que deseja novamente negociar e não retaliar, como chegaram a defender aliados do presidente.
Nas conversas de técnicos e diplomatas com representantes do setor privado, os auxiliares de Lula têm se concentrado em questões sobre o que é prioritário para as empresas brasileiras. E a resposta tem sido manter o atual acordo de comércio. Ou seja, agir de maneira pragmática.
Pessoas que acompanham este trabalho afirmam que o Brasil tem uma situação diferente da europeia, por exemplo, que nesta terça-feira, 11, se manifestou com críticas à decisão de Donald Trump e ameaça retaliar. Em 2018, os europeus não escaparam da taxação dos americanos e provavelmente não fugirão agora.

O governo brasileiro está reunindo informações das siderúrgicas brasileiras, mas principalmente está formando opinião sobre quais argumentos deve defender na negociação com os Estados Unidos.
Já o setor privado se prepara para contratar escritórios de lobby e de consultoria em Washington, nos mesmos moldes do que foi feito em 2018, e elaborar material em inglês que possa subsidiar missões brasileiras aos Estados Unidos. A expectativa é que governo e empresários atuem juntos na negociação com os representantes comerciais americanos.
Um dos pontos que, já se sabe, deverão ser destacados nessas tratativas são o superávit que os americanos têm na relação comercial com o Brasil, além da relevância das siderúrgicas brasileiras na compra de carvão de coque dos Estados Unidos. No caso do aço, as atividades das fábricas americanas e brasileiras são consideradas complementares e não concorrentes, haja vista que o Brasil exporta matéria-prima. Os argumentos são semelhantes aos apresentados na negociação de 2018.
Desta vez, porém, há informações falsas sobre as exportações do Brasil que precisarão ser atacadas, como o argumento de que o País passou a importar aço da China para vender aos Estados Unidos. As empresas brasileiras reuniram dados para mostrar que o País vem tentando se defender da enxurrada de produtos siderúrgicos chineses desde então. Em outra frente, afirmam que, pelo sistema alfandegário americano, é impossível entrar mais produtos nos Estados Unidos do que o fixado pelas cotas, como também chegou a especular o decreto de Trump.
O momento é de coleta de informações para abrir a negociação, com o argumento de que não se trata de uma medida contra o Brasil ou contra setores específicos, mas uma estratégia política de Trump que pode ter efeitos negativos para os próprios americanos.
Na terça-feira, 11, o governo brasileiro manteve o silêncio de cautela que vem sustentando desde domingo, mantendo o trabalho nos bastidores, o que provocou alívio entre empresários do setor siderúrgico e a confiança de que o caminho será pela negociação. A diplomacia brasileira aguarda ainda a comunicação formal, pelos EUA, das sanções impostas e considera haver tempo para negociar, dado que a medida entra em vigor em março.