Atualizado às 22h45
NOVA YORK - A agência de classificação de risco Fitch rebaixou nesta quinta-feira a nota de crédito do Brasil. Apesar de ter mantido o grau de investimento - considerado um selo de bom pagador pelos investidores -, a agência colocou a nota em perspectiva negativa. E indicou que pode tirar o grau de investimento do Brasil em até 18 meses.
A Fitch rebaixou a nota de BBB para BBB-, o último degrau antes de virar grau especulativo. Como a notícia já era prevista e o Brasil manteve o selo de bom pagador, a reação foi tranquila. Logo após o anúncio, a cotação do dólar chegou a subir, mas fechou em queda de 0,47%, a R$ 3,80. A Bolsa de Valores fechou em alta de 0,96%, aos 47.161,15 pontos.
Em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a diretora de ratings soberanos da América Latina da Fitch, Shelly Shetty, afirmou que a perspectiva negativa indica possibilidade acima de 50% de a nota do País ser rebaixada em 12 a 18 meses. “A perspectiva negativa reflete o risco de piora que vemos para o Brasil.”

Em meio ao difícil ambiente político, os riscos pendem para a piora da economia e das contas públicas. O Brasil deve ter uma recessão mais profunda do que o esperado pela Fitch, que agora prevê recuo de 3% na economia em 2015.
Shelly disse que a dificuldade de avançar com o ajuste fiscal, por causa do cenário político e da recessão, deve levar a dívida bruta a aumentar para 70% do PIB. Esse número preocupa e está acima do patamar médio de países com a nota BBB. Segundo ela, o País ainda manteve o grau de investimento porque tem muitas reservas internacionais e uma economia grande e diversificada.
O rebaixamento pela Fitch vem após a Standard & Poor’s ter retirado o selo de bom pagador do Brasil em setembro. Em agosto, a Moody’s rebaixou o rating para Baa3, última nota dentro do grau de investimento. Se o Brasil perder o grau de investimento de mais uma agência, corre o risco de enfrentar uma fuga de capitais. Muitos fundos de investimentos são proibidos de pôr seus recursos em países com duas classificações de grau especulativo.
Para o economista do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, a trajetória prevista para a dívida aumenta o risco de rebaixamento em 2016. “A decisão da Fitch é no geral negativa, mas não foi surpresa, dada a nítida deterioração no quadro macroeconômico do Brasil”, escreveu Ramos, em relatório a investidores.
O representante do Brasil no FMI, Otaviano Canuto, disse que o Brasil precisa resolver o impasse político para evitar novas reduções nas notas. “Estamos prisioneiros da resolução do imbróglio político”, afirmou a jornalistas, em evento no Rio. / COLABORARAM MARIANA DURÃO E VINICIUS NEDER, COM REUTERS
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