Brasil é vice-líder em número de desempregados, diz estudo

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Por Agencia Estado
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O Brasil tem a segunda maior população de desempregados do mundo, com 11,454 milhões de pessoas, ficando atrás apenas da Índia, que tem 41,344 milhões, segundo revela o estudo Globalização e Desemprego: Breve Balanço da Inserção Brasileira, feito pelo secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo, o economista Márcio Pochmann. O Brasil fica à frente de países como Rússia (7,395 milhões), China (5,950 milhões) e Indonésia (5,872 milhões). Estados Unidos (5,655 milhões), Alemanha (3,685 milhões) e Japão (com 3,2 milhões) fecham o grupo das oito maiores populações de desempregados do mundo. O trabalho é baseado em números do ano 2000, coletados em fontes como Organização Internacional do Trabalho (OIT), Organização da Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE), Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) e Banco Interamericano de Desenvolvimento. Em 1980, o Brasil era o nono desse ranking, com cerca de 1 milhão de desempregados. Em 1990 caiu para sexta posição com 2,368 milhões e em 1995 ficou em quinto, com 4,510 milhões. Nesse ranking, têm as piores estatísticas os países com maiores populações, onde o desemprego, ainda que porcentualmente seja pequeno, atinge um número grande de pessoas. Segundo o estudo, em 1980 o Brasil tinha 2,6% da População Economicamente Ativa (PEA) do mundo, mas contava apenas com 1,7% do desemprego mundial. Até o ano 2000, a PEA do Brasil cresceu pouco, para 3% da força de trabalho do mundo. No entanto, no mesmo período o desemprego teve um crescimento bem mais acelerado: hoje o País responde por 7% do desemprego mundial. O Brasil só melhora nas estatísticas quando é considerada a taxa de desemprego aberta (segundo o IBGE, é aquela que considera os desempregados que procuraram trabalho durante uma semana). Nesse ranking, o País é o 23º, com taxa de desemprego de 15%. Neste ranking, entre os países desenvolvidos, apenas a Espanha (14,1%) aparece entre as 30 piores estatísticas. Macedônia (53,7%), Zâmbia (47,9%) e Zimbábue (46,5%) são os três primeiros da lista. A 23ª posição do Brasil é, porém, muito pior do que era em 1980, quando o País ficou em 91º com 2,2% de desemprego aberto, e do que em 1990, quando caiu para 78º, com 3%. Desemprego X PIB Ainda segundo o estudo, número de desempregados no Brasil aumentou 11,9 vezes entre 1980 e 2000, de 964,2 mil para 11,454 milhões, enquanto o PIB avançou bem menos, 1,6 vez, e a população cresceu 1,4 vez no mesmo período. A conclusão de Pochmann é que o Brasil não tirou proveito como deveria do processo de globalização, intensificado durante o período analisado. "A abertura da economia foi feita de maneira equivocada. Abrimos o País sem exigir nada em troca", afirmou. De acordo com ele, faltaram no Brasil investimento, tanto interno quanto Investimento Direto Externo (IDE) ?que cresceu no período mas não foi suficiente para compensar a queda de investimento interno-, políticas de desenvolvimento, como política industrial, e incentivo às exportações e à substituição de importações. O mesmo a conteceu com a Argentina, por exemplo. No mesmo intervalo pesquisado, o PIB do país vizinho cresceu 1,8 vez e a população, 1,3 vez, enquanto o desemprego galopou, tendo aumentado 24,4 vezes entre 1980 e 2000. O estudo de Pochamann utiliza dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Organização Mundial do Trabalho (OIT), da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE), Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), entre outras. Brasil precisa crescer 7% O Brasil, que tinha 11,454 milhões de desempregados em 2000, em segundo no ranking dos países com maior população sem emprego (atrás apenas da Índia, que tinha 41,344 milhões), precisa crescer a uma taxa média de 6% a 7% ao ano para abri r vagas suficientes para absorver o 1,6 milhão de jovens que ingressa a cada ano no mercado de trabalho. "Os governos federal, estaduais e municipais não podem se ausentar disso", afirmou. Segundo ele, é preciso haver queda de juros, incentivo às exportações, à substituição de importações e políticas industriais ativas, entre outros fatores, para o PIB brasileiro crescer a taxas mais elevadas. "Temos que nos preocupar mais com exportações do que com importações", disse. Para Pochmann, o País tem que agregar valor àquilo que produz e exportar mais produtos de alto valor adicionado. "Não podemos mais exportar só produtos agrícolas e importar bens manufaturados", disse. Países como China e Índia, que deram maior importância às exportações, não eliminaram todos os seus problemas mas cresceram mais que o Brasil entre 1980 e 2000 sem multiplicar tanto o desemprego. Enquanto o PIB brasileiro foi multiplicado por 1,6 vez no período, a população por 1,4 vez e o desemprego por 11,9 vezes, a China teve o PIB multiplicado por 6,2 vezes, o desemprego por 1,1 vez e a população por 1,3 vez. O estudo de Pochamann utiliza dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Organização Mundial do Trabalho (OIT), da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE), Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), entre outras. Paises pobres O desemprego é hoje um problema quase exclusivo de países pobres, que afeta em menor proporção os países ricos. "O modelo de globalização está sendo desfavorável aos países que não são do G7", disse Pochmann. Em 20 anos, de 1980 a 2000, o desemprego nos países do G7 caiu de 27,5% do total para 11,9%. Portanto, o desemprego no restante dos países do mundo subiu de 72,5% para 88,1%. Hoje, o total de pessoas no mundo que não têm trabalho é de 164,4 milhões. "O trabalho não é mundial. Não há livre circulação do trabalho", disse. "O trabalho é um problema localizado", completou. O Brasil sofreu especialmente nesses 20 anos. Em 1980 tinha 2,6% de toda a População Economicamente Ativa (PEA ) do mundo e só 1,7% dos desempregados. Em 2000, tinha 3% da PEA mundial, mas 7% do total de pessoas sem trabalho. O estudo mostra como as maiores economias do mundo se beneficiaram da globalização, tendo mantido a predominância da produção mundial, dos investimentos e da renda per capita e tendo redução do desemprego, e como as menos desenvolvidas não só não tiraram o mesmo proveito como até saíram prejudicadas. O PIB somado dos países do G7 cresceu de 64% do PIB mundial para 64,9% -o Brasil tinha 2,9% em 80 e 2,6% há dois anos. Os investimentos totais (nacionais e estrangeiros) mostram a mesma evolução nas duas décadas: o G7 tinha 65,7% do total de investimentos em 1980 e aumentou para 65,8% em 2000. O Brasil recebia 3,2% do total de investimentos no mundo em 80 e caiu para 2,6% em 2000. No entanto, a população dos países desenvolvidos do G7 diminuiu proporcionalmente em relação à dos 114 países restantes do estudo. Em 1980, era de 14,5% do total mundial e, em 2000, caiu para 11,4%. "Isso mostra que com bem menos pessoas esses países têm mais da metade da produção mundial. Não houve desconcentração de riquezas", afirmou Pochmann. Investimento em tecnologia Pochmann afirmou ainda que os investimentos em tecnologia e mecanização dos processos produtivos não são os causadores do desemprego, mesmo em economias em desenvolvimento. "Serve mais como desculpa para os governos", afirmou. Ele defende que, se a economia do país cresce em ritmo elevado, mesmo que funcionários sejam substituídos por máquinas na indústria, há abertura suficiente de vagas no comércio e no setor de serviços para absorver os demitidos. "O que acontece é uma migração do emprego", disse. Entre 1980 e 2000, período em que a globalização aconteceu com mais intensidade, as sete maiores economias do mundo, que são as que mais investem em tecnologia e mecanização da produção, cresceram mais do que o restante dos países do mundo. Em contrapartida, no mesmo período, o desemprego, tanto relativo quanto absoluto, nos países do G7 diminuiu, enquanto nos países em desenvolvimento aumentou.

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