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Brasil perde espaço para a Rússia na exportação de petróleo para Índia e China

Com as sanções devido à guerra na Ucrânia, Rússia passa a oferecer petróleo com preço mais vantajoso para o mercado asiático

Por Heloísa Scognamiglio e Jessica Brasil Skroch
Atualização:

O Brasil exportou menos petróleo para a Índia e para a China no primeiro semestre de 2022, em meio à guerra da Ucrânia e a um aumento da importações de petróleo russo por parte dos dois países asiáticos. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), até junho deste ano o Brasil exportou um volume 36% menor de petróleo para a China do que no mesmo período do ano passado. Já as exportações para a Índia tiveram queda de 53,8%.

De janeiro a junho de 2022, o Brasil exportou cerca de 1,2 milhão de toneladas de petróleo para a Índia. No mesmo período em 2021, foram 2,6 milhões de toneladas. Para a China, foram exportadas cerca de 12,5 milhões de toneladas de petróleo no primeiro semestre deste ano, enquanto em 2021, no mesmo período, foram exportadas cerca de 19,56 milhões de toneladas.

O Brasil exportou menos petróleo para a Índia e para a China no primeiro semestre de 2022 do que no mesmo período do ano anterior Foto: Fabio Motta/Estadão

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Em dólares, a exportação de petróleo para a Índia caiu de cerca de US$ 1,09 bilhão para US$ 589 milhões (queda de 46%). Em relação à China, as exportações passaram de US$ 8,06 bilhões no ano passado para US$ 7,9 bilhões em 2022 (-2%).

Em meio à guerra na Ucrânia e às sanções impostas ao petróleo russo por Estados Unidos e União Europeia, a China e a Índia, os dois países mais populosos do mundo, se tornaram mercados ainda mais importantes para a Rússia no comércio de petróleo.

Em uma espécie de “mercado paralelo”, a Rússia oferece o petróleo a preços mais baixos do que os praticados no mercado internacional, explica Roberto Dumas, professor de Economia Internacional do Insper e estrategista-chefe do banco de investimentos Voiter.

A compra de petróleo da Rússia pela China é também uma maneira de mostrar uma “certa aliança”, interpreta Dumas. “É uma aliança vantajosa para a China, ela acaba comprando petróleo do país a um preço com desconto para depois revender a um preço de mercado”, explica.

Dessa maneira, o preço do petróleo russo fica mais atrativo do que o brasileiro, que vem sofrendo a redução de suas exportações. Segundo Dumas, a tendência é a de que as exportações brasileiras continuem menores enquanto perdurarem as sanções ao gás natural e petróleo russo.

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O professor ainda avalia que os Estados Unidos faz “vista grossa” para a situação, na tentativa de impedir uma explosão do preço. “Sem o petróleo russo, o barril já teria ido para em torno de US$160″, estima Dumas.

Mesmo com as sanções, durante os primeiros cem dias de guerra a Rússia ganhou 93 bilhões de euros com suas exportações de combustíveis fósseis, sendo que cerca de dois terços desses ganhos vieram do petróleo. No período, a China foi a maior importadora de combustíveis fósseis, e os indianos aumentaram suas importações do petróleo russo, comprando cerca de 18% das exportações do país.

Em maio, a Rússia superou a Arábia Saudita como principal fornecedor de petróleo da China, segundo dados divulgados pelo governo chinês, após as importações chinesas de petróleo russo atingirem alta recorde de 28% em relação ao mês anterior. Segundo dados de frete analisados em junho pela Kpler, uma firma de pesquisa de mercado, a Índia atualmente importa mais de 760 mil barris diariamente dos russos.

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