Mercosul foi criado em 1991 com o objetivo de integrar Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai economicamente. A ideia central era aprofundar essa integração, para um dia ter no Cone Sul o Mercado Comum do Sul. Em 1995, iniciaram-se a zona de livre comércio e a união aduaneira, sempre inspiradas na experiência da Comunidade Econômica Europeia.
Não vou entrar, aqui, em detalhes sobre o que deu certo na ideia, o que não deu e o que parece uma distante utopia. Mas, sim, no grande ganho que ela pode trazer para um futuro muito mais próximo do que parece. O Mercosul é uma importante porta de entrada para negócios com União Europeia (UE), EUA, países do Sudeste Asiático, entre outros. E o Brasil pode ser o grande protagonista dessas possíveis negociações.
Comparados a nossos vizinhos, temos uma economia estável, uma política sem grandes solavancos, como insurreições ou convulsões sociais, e, principalmente, um cenário futuro mais promissor. Além disso, somos parceiros comerciais e destino dos investimentos dos grandes players do mercado internacional há décadas.
Para ter ideia do potencial de negócios, em outubro, durante a Conferência de Comércio Internacional e Serviços do Mercosul (CI19), o presidente nacional da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), José Roberto Tadros, apresentou estudo da entidade que prevê impacto acumulado de aproximadamente US$ 79 bilhões na economia brasileira até 2035, em decorrência do acordo Mercosul-União Europeia. Os objetivos seriam o comércio de produtos do agronegócio do Mercosul e de bens industrializados europeus. Se acordos semelhantes forem fechados com EUA, China e Japão, além dos países árabes, esses valores podem mais que triplicar.
E todos esses grandes players olham o Mercosul com interesse. No Brasil, por exemplo, o agronegócio ainda é o setor mais promissor. Por isso, China e Japão são dois grandes interessados em aportar recursos no transporte sobre trilhos – um investimento em logística e infraestrutura que tornaria nossos produtos agropecuários ainda mais competitivos.
O Brasil já alinhava, juntamente com a Argentina, um acordo de livre comércio com os EUA. Mas a recente troca de farpas entre o presidente Jair Bolsonaro e o novo governo de Alberto Fernández e Cristina Kirchner levantou receios de que as relações com a Argentina possam ficar estremecidas. Ou, ainda, que interfira no acordo do Mercosul com a União Europeia.
Cabe um alerta: não se pode deixar que ideologias e simpatias políticas interfiram nas relações diplomáticas e econômicas entre Argentina e Brasil, que há décadas têm cada vez mais integrado suas economias.
A pauta de possíveis negócios é grande e mais diversificada do que pode parecer num primeiro momento. Além de produtos do agronegócio, em que os países do Mercosul são competitivos (ou têm vocação para sê-lo), os países do Oriente Médio, por exemplo, têm interesse na compra de manufaturados e serviços, além de ver na região um possível destino para seus investimentos. Há anos já existem negociações, que não avançaram, com o Conselho de Cooperação dos Estados Árabes do Golfo, do qual fazem parte Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Omã, Catar e Kuwait.
Mas, mais importante que alinhavar parcerias e acordos, acenando com a possibilidade de ganhos, é dar garantias. É preciso minimizar os riscos e diminuir a percepção de que os países do Mercosul, incluindo o Brasil, são complicados para fazer negócios. De nada adianta haver interesse do mundo no Mercosul se os países do bloco não promoverem a segurança jurídica nos contratos e na questão tributária, além das necessárias reformas econômicas para tornar os negócios instalados em seus territórios mais competitivos internacionalmente. Para que os investimentos venham, essa é a lição de casa principalmente para Brasil e Argentina.
* ESPECIALISTA EM COMÉRCIO EXTERIOR, É PRESIDENTE DA ALABY & CONSULTORES ASSOCIADOS