BRASÍLIA – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que a guerra comercial travada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estimulada por anúncios de tarifas contra parceiros comerciais, pode impulsionar a aprovação do acordo entre Mercosul e União Europeia, avaliaram integrantes ouvidos pelo Estadão/Broadcast.
De acordo com interlocutores do governo, o “tarifaço” do presidente americano tende a melhorar a recepção do acordo pelo Parlamento Europeu diante da oportunidade de comércio regulado – e, assim, facilitar sua aprovação.

O acordo foi assinado no fim do ano passado, mas a avaliação é de que sua implementação não será imediata. O texto, por exemplo, ainda precisa passar pela aprovação nos congressos nacionais dos países do Mercosul, além do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia.
Apesar de uma visão de longo prazo, o Brasil está otimista com sua aprovação. A avaliação é de que o tratado traz mais benefícios à União Europeia que ao Mercosul, e tal ponto ganhará maior relevância com a incerteza sobre as possíveis consequências das decisões tomadas pelo presidente americano na política externa do país.
Essa visão já foi defendida, inclusive, pelo primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, em visita ao Brasil em fevereiro. Na ocasião, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o português disse que, se o acordo não for implementado, esse será um espaço que ficará em aberto para outros blocos comerciais. Na avaliação do premiê, se os europeus não tiverem a “capacidade” de fazer a implementação, não poderão se “queixar” depois.
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A expectativa do governo brasileiro é de que, em dezembro, a tramitação do acordo no Parlamento Europeu já esteja adiantada. Caso aprovado, é esperado que os blocos façam uma cerimônia de celebração.
Ao ser eleito em novembro do ano passado, Trump já acelerou indiretamente o fechamento do acordo entre as partes, após 20 anos de discussão. Logo após a vitória do republicano, a comissária europeia, Úrsula von der Leyen, desembarcou no Uruguai – onde ocorria uma reunião do Mercosul – para assinar o acordo.
‘Banho-maria’
Apesar dessa expectativa positiva do Brasil por causa das mudanças que o americano tem proporcionado à economia mundial, o assunto deve ficar em banho-maria até pelo menos metade do ano. Isso deve se dar porque a presidência rotativa do bloco do sul está sob o comando argentino e o discurso do presidente Javier Milei não se encaixa com o andamento do acordo.
Um diplomata chegou a comparar o que acontece com Milei à postura do francês Emmanuel Macron, que vê o tratado como algo positivo para seu país, mas que não pode defendê-lo por causa dos protestos de agricultores locais, contrários ao encaminhamento do tratado. Pesa também contra neste momento o fato de a Polônia encabeçar o Conselho Europeu. A partir de julho é o Brasil que vai liderar o Mercosul e a Dinamarca, a instituição europeia.