Nesta segunda-feira, 16, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que o Brasil está entre as nações que praticam tarifas elevadas e que, devido a isso, iria aumentar as taxas dos produtos que chegam ao território norte-americano.
Embora confirmem que, de fato, o Brasil tem taxas elevadas de exportação, especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que, se de fato a ideia de taxar os produtos brasileiros for adiante, trará como efeito direto o aumento dos preços no mercado interno.

“Historicamente, o Brasil tem taxas elevadas de exportação, e esse é um histórico antigo do País”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Mas o Trump tem esse fetiche tarifário. Ele tem um pensamento completamente equivocado. O efeito disso será um aumento do custo geral para as empresas norte-americanas”, diz .
Sergio Vale e outros especialistas dizem que a fala de Trump não encontra respaldo quando as informações da balança comercial brasileira são analisadas, já que há superávit para o lado norte-americano.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, no acumulado de janeiro a novembro deste ano em relação a igual período de 2023, as exportações brasileiras para os Estados Unidos cresceram 9,3% e atingiram US$ 36,57 bilhões (R$ 221,26 bilhões). Já as importações avançaram 6,9%, e totalizaram US$ 37,36 bilhões (R$ 226 bilhões). Com isso, no período, a balança comercial brasileira apresentou déficit de US$ 790 milhões (R$ 4,8 bilhões).
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“Sim, é verdade. De fato, o Brasil taxa muito e há um protecionismo grande no comparativo com os Estados Unidos, embora algumas partes do mundo imponham barreiras tarifárias e não tarifárias. É o caso das cotas de aço impostas pelos Estados Unidos”, afirma José Ronaldo Souza Júnior, professor do curso de economia do Ibmec-Rio.
Um exemplo de barreira foi o direito antidumping aplicado às exportações brasileiras de tubos soldados de aço não ligado de seção circular, que vigorava desde 1992 e só foi revogado pela Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos (USITC, na sigla em inglês) no início deste ano. Até então, os EUA cobravam taxas adicionais de 103,4%.
Por outro lado, o Brasil cobra impostos de importação dos EUA que podem chegar a 60% calculados sobre o valor do produto, segundo Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. Segundo ele, dependendo do item, são acrescidos ao valor final ainda o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), PIS/Cofins e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o que pode elevar ainda mais os valores e a porcentagem final.
Apesar disso, Eyng afirma que a fala de Trump é muito difícil de ser colocada em prática. “Eu não tenho a menor dúvida de que o Trump tem essa vontade (aumentar taxas), porém, é uma declaração populista e não é possível de ser implantada. O grande adversário comercial dos EUA desde a primeira eleição de Trump era e é a China. Depois disso, tem a questão comercial com a Rússia, que está em guerra e, em seguida, o México”, analisa Eyng.
Segundo o CEO da Multiplike, se Trump realmente fizer isso, criará um cenário inflacionário em seu país. “E eu não sei se ele tem essa possibilidade econômica. É um país que tem tolerância zero à inflação”, afirmou Eyng.
Para Vale, se de fato a ideia de Trump for adiante, será necessário entender se o Brasil fará alguma retaliação, prática que é tradição do País. “Não faz o mínimo sentido ele (Trump) fazer isso. Se o fizer, expulsará o comércio brasileiro para outras regiões, sobretudo para a China e a Europa”, avalia o economista-chefe das MB Associados.