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Brasileiro perde 101 bilhões de pontos em programas de cartões de crédito

Levantamento do BC mostra que consumidor desperdiçou milhas equivalentes a 5 milhões de bilhetes aéreos no ano passado

Por Fernando Nakagawa e BRASÍLIA

Brasileiros perderam 101,3 bilhões de pontos nos programas de recompensas dos cartões de créditos em 2010. Levantamento inédito do Banco Central (BC) mostra que o montante de milhas expiradas em um ano seria suficiente para emitir mais de 5 milhões de passagens aéreas entre o Brasil e qualquer destino da América do Sul.O estudo mostra ainda que o gasto dos bancos com a conversão de bônus em brindes equivale a apenas 0,22% de todo o faturamento anual dos cartões. Com a popularização do dinheiro de plástico e a concorrência entre os bancos, um dos atrativos com importância crescente para oferecer um cartão de crédito é o programa de bonificação. Juntar pontos, bônus ou milhas e depois converter em uma passagem internacional, um belo acessório para casa ou um moderno eletrônico é apresentado como supervantagem, na linha do "quanto mais você gasta, mais ganha". Mas pesquisa do BC mostra que os benefícios são aproveitados por poucos. Trimestralmente, clientes conseguem transformar apenas 13,5% dos pontos em prêmios. Além de gastar pouco, quase 20% dos pontos acumulados foram desperdiçados porque venceram naquele ano.Executivos da área de cartões afirmam que muitos clientes perdem os pontos simplesmente por desconhecer os programas de benefícios. Há também muitos consumidores que conhecem o sistema de pontos, mas têm a percepção de que é difícil convertê-los em brindes. Além disso, muitos clientes de menor renda não conseguem acumular pontos suficientes para uma troca. Na maioria das instituições financeiras, os presentes começam com "preço mínimo" de 1.000 pontos. Como normalmente cada gasto equivalente a um dólar gera um ponto, o cliente precisa acumular compras correspondentes a US$ 1.000 para, por exemplo, trocar por uma simples luminária para livro. Maldivas. Rafael Raiol, bancário em Brasília, se orgulha de fazer parte do grupo que usa os pontos. "Nunca deixei nenhum ponto expirar", diz, orgulhoso, o jovem de 26 anos que tem sete cartões de crédito na carteira e usa o dinheiro de plástico para praticamente todas as despesas. "Uso até na padaria com uma conta de um, dois reais", afirma, ao citar que, mensalmente, chega a juntar até 8 mil pontos. Tanto esforço deu resultado. Raiol já desembarcou em Buenos Aires, Fortaleza, Ilhéus e Ribeirão Preto sem gastar com as passagens aéreas. O maior prêmio, porém, está por vir. As passagens para a lua de mel em abril já estão emitidas para as Ilhas Maldivas, arquipélago no sudoeste do Sri Lanka. Tudo pago com pontos. A despesa dos bancos para pagar prêmios como os de Raiol somou R$ 836 milhões em 2010. Milionária, a conta fica pequena diante do faturamento do setor de cartões de crédito: em um ano, o setor acumulou R$ 386 bilhões em operações. Ou seja: apenas 0,22% da soma de todas as faturas que chegam mensalmente à casa dos clientes virou prêmio. Dessa despesa com os gastos, a maioria foi entre os clientes com maior renda - salário superior a R$ 2.490. Nesse grupo, o custo da conversão de pontos para os bancos alcançou o equivalente a 0,34% da conta anual do cartão. Entre clientes com renda menor, os prêmios custaram 0,04% dos extratos somados. A pesquisa mostra, ainda, que a soma dos pontos de todos os cartões emitidos no Brasil era de 591,2 bilhões de milhas no fim de 2010. Se todos esses bônus fossem convertidos, bancos teriam um gasto de R$ 1,4 bilhão.

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